Perder alguém para a morte é uma dor sempre singular. A intensidade das emoções diante da perda – anunciada ou repentina - varia de pessoa para pessoa. Mas certamente há uma pergunta que inquieta quase todos nós nesses momentos: o que estamos fazendo com os nossos dias?
Diante da morte, a pressa perde o sentido. Ela desacelera tudo. Os compromissos, as mensagens não respondidas, a lista de tarefas - tudo isso parece insignificante. Aquilo que antes parecia imenso ou urgente se torna pequeno. É como se o tempo parasse só para nos lembrar o óbvio: ninguém está aqui para sempre.
E aí surgem mil perguntas.... e, claro, tantas promessas de mudanças. Pensamos em rever prioridades, hábitos e valores que, infelizmente, para a maioria, essas promessas não se concretizam.
O escritor francês François de La Rochefoucauld escreveu: “Nem o sol, nem a morte podem ser olhados de frente.” Faz sentido. Em uma sociedade obcecada pela produtividade, juventude, aparência e sucesso, falar sobre a morte ainda é tabu. E, mesmo sendo a única certeza que temos na vida, é curioso observar como ela ainda nos pega de surpresa - como se fosse novidade.
Claro que não se discute o assunto facilmente sem que haja desconforto. E muitos ainda associam o tema ao pessimismo ou à depressão. Mas não é. Falar sobre morte é, acima de tudo, refletir sobre a vida. É olhar com mais carinho para nossos planos e desejos.
Desde sempre convivemos com perdas: mudanças, separações, demissões. São despedidas que - dolorosas ou não, intensas ou sutis - nos ensinam que tudo é cíclico, que nossa jornada tem começo meio e fim. Mesmo assim, não é simples aceitar a morte de quem amamos. Quando o vínculo é profundo, o sofrimento é inevitável e devastador. O que mais dói não é só a ausência física, mas a falta da referência emocional que aquela pessoa representava: amor, segurança e direção.
Esse processo doloroso se chama luto. E não há receita nem prazo. É o tempo quem dá a medida para a superação. O maior risco aqui é negar a dor, ou tentar substituí-la ou preenche-las com distrações. O luto é uma experiência que precisa ser vivida e processada, para que a perda possa ser ressignificada.
O fato é que, por mais desconfortável que seja, falar sobre a morte nos torna mais presentes e mais gratos pelo que temos. A consciência da finitude nos convida a viver com mais sabedoria, a valorizar o agora, a não deixar para depois o que nos traz bem-estar.
Ter consciência da morte não tem a intenção de nos paralisar – é para nos despertar. Para nos lembrar que viver bem é uma escolha e que o tempo, por ser finito, é tão precioso. Créditos: Joselene L. Alvim- Psicóloga