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Após impasse com Polícia Ambiental, prefeitura de Campinas comprova legalidade de corte de raízes de árvores na Praça Silva Rego


Prefeitura comprova legalidade pode retomar poda de raízes de árvores na Praça Silva Rego

Um impasse envolvendo a prefeitura de Campinas (SP) e a Polícia Militar Ambiental causou a suspensão temporária da reforma da Praça Silva Rego, entre os bairros Jardim Guanabara e Jardim Chapadão, na manhã desta quarta-feira (23). A polêmica envolve moradores do entorno, a administração pública e alguns feirantes.

A poda das raízes de cinco árvores de grande porte da praça é a protagonista da discussão. A prefeitura tinha iniciado pela manhã o corte, mas, após uma denúncia de que aquele procedimento era irregular, segundo a PM, foi solicitado que as obras fossem paralisadas e que a administração pública enviasse um documento para comprovar a legalidade e segurança da poda.

A Polícia Ambiental recebeu resposta da prefeitura na tarde desta quarta-feira. Segundo o comandante da equipe, Cléber Ventrone, o serviço de poda e cauterização de raízes não descumpriu normas ambientais. A obra deve ser retomada a partir da próxima semana.

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"Tivemos em mãos o acesso ao laudo que foi expedido por um engenheiro ambiental da prefeitura e verificamos que estava completamente regular aquilo que a prefeitura estava realizando aqui na praça, né? Então foi mais um ato de rotina de fiscalização por parte do policiamento ambiental", explica.

Após impasse com Polícia Ambiental, Prefeitura de Campinas comprova legalidade e pode seguir com pode de raízes de árvores na Praça Silva Rego

Reprodução/EPTV

O espaço público é sombreado por árvores de grande porte, incluindo espécies exóticas com raízes que podem medir dezenas de metros. Aos sábados, a praça recebe uma feira de artesanato.

🌳Os alvos da poda são cinco ficus benjamina, uma espécie de origem indiana que não é nativa daquele ambiente e que, conforme a prefeitura, tem raízes que chegam a avançar até 30 metros a partir do tronco, danificando o calçamento.

Estabilidade das árvores

Ivan Alvarez, pesquisador sobre arborização em cidades do Embrapa, mora perto da praça e afirmou que a poda de raízes pode diminuir a estabilidade das árvores.

"A poda dessas raízes vai tirar a sustentabilidade dela, o ancoramento, ou seja, como essa árvore vai estar fixada no solo e não sofrer danos, né? Então ela pode ter problemas de doenças que podem desestabilizar a planta e ela vir a morrer, ou cair galhos, ou até mesmo cair", diz o pesquisador

Após impasse com Polícia Ambiental, prefeitura de Campinas comprova legalidade e pode seguir com pode de raízes de árvores na Praça Silva Rego

Reprodução/EPTV

A prefeitura afirmou, em nota, que um estudo técnico garantiu que o procedimento não compromete a estabilidade das árvores, e o trabalho de corte e cauterização de raízes está previsto na reforma da praça para permitir a ampliação da calçada, e, assim, dar mais conforto aos feirantes e mais segurança aos pedestres.

O secretário de Serviços Públicos Ernesto Paulella defendeu a ampliação do calçamento para dar mais espaço à feira de artesanato realizada na praça, e pontuou que foi um pedido da população.

"A praça, hoje, o espaço não comporta todos os participantes. Então eles pediram para aumentar um pouco o piso do passeio para poder acomodar a feira e dar mais tranquilidade para os usuários", afirma.

Após o questionamento da Polícia Ambiental, a prefeitura apresentou um laudo técnico assinado na segunda-feira (21). O documento recomenda a poda superficial das raízes de todas as 11 árvores da praça, com base na lei municipal que define regras para arborização da cidade.

Os dois documentos foram emitidos pelo Departamento de Parques e Jardins da Secretaria Municipal de Serviços Públicos, responsável pela manutenção da praça e pela obra feita por uma empresa terceirizada.

Sarita Macarini, coordenadora da feira, afirmou que os feirantes têm dificuldades com o espaço da praça, mas negou que o pedido tenha sido feito por eles. A representante dos artesãos disse que a feira reúne mais de 100 barracas com artesanato e alimentação.

"Na chuva, nós trabalhamos também na chuva. E aí, as barracas ficam "do lado de cá", mas o barro fica logo atrás na cadeira das pessoas. Então isso daí não foi nenhum pedido nosso no momento, mas foi a prefeitura que esteve aqui e viu a necessidade que tinha de fazer um calçamento e plantar", diz.

Após impasse com Polícia Ambiental, Prefeitura de Campinas comprova legalidade e pode seguir com pode de raízes de árvores na Praça Silva Rego

Reprodução/EPTV

Antes do retorno das obras, a prefeitura pretende fazer uma reunião com vizinhos da praça, feirantes e também vereadores para apresentar todos os laudos.

Queda de árvores

Em 2022, um técnico de eletrônica de 36 anos morreu após uma árvore de grande porte do Bosque dos Jequitibás cair sobre o carro que ele dirigia, em Campinas. A árvore tinha 35 metros de altura e pesava mais de 10 toneladas.

Um laudo do Instituto Biológico (IB) apontou que uma combinação de fatores, entre eles vibrações do trânsito, sombreamento e drenagem do solo, aliada à chuva elevada e aos ventos, foram a provável causa para a queda da figueira-branca centenária.

Imagem mostra carro atingido por árvore gigante, em Campinas (SP)

Lucílio Ferreira Junior

Arborização em Campinas

Durante parte de seus 248 anos de existência, a metrópole foi referência em arborização urbana no país, principalmente no fim do século XIX, durante o processo de reconstrução da cidade após as sucessivas epidemias de febre-amarela.

De acordo com a ex-curadora do herbário do IAC, Roseli Buzanelli Torres, a preocupação de Campinas com as árvores após as crises sanitárias no século XIX elevou a cidade a um papel de destaque frente a outros centros urbanos. À época, a arborização era pensada a partir da diversidade na flora e do resgate de espécies nativas.

"Campinas sempre teve uma arborização diferenciada, porque se você vai para qualquer cidade do Brasil, por exemplo Belém do Pará, Porto Alegre, você vai ver que a arborização urbana é muito igual, independentemente do ecossistema onde esses centros urbanos ocorrem", comentou Roseli.

Com o avanço da primeira metade do século XX, este olhar se manteve e foi responsável por ampliar ainda mais a arborização em praças, passeios e vias públicas, dando a Campinas uma paisagem de equilíbrio entre o verde e o concreto.

As iniciativas ganharam respaldo jurídico para formalizar e garantir a continuidade deste ideal pretendido de cidade. O de maior destaque foi a criação do Código de Projetos em 1934, que regulamentou a obrigatoriedade de reservar espaços públicos para praças e jardins e normatizou a técnica do plantio das árvores.

As preocupações, à época, não tinham uma motivação estética, mas sim de pensar a vegetação urbana a partir de sua função de regulação da temperatura e aumento da área permeável para evitar eventuais problemas com enchentes.

O cenário começou a se tornar mais complexo à medida que as fronteiras urbanas avançavam, sobretudo com a verticalização da cidade a partir da década de 1950 e o aumento populacional.

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