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Arcebispo de Teresina diz que cristãos devem se inspirar em Jesus para denunciar sofrimentos: 'Oração e ação'


Para o arcebispo, situações como feminicídios, mortes no trânsito e abusos sexuais atualizam o sofrimento de Jesus, que se identifica com as vítimas, no caminho até a cruz em sua Paixão. Para arcebispo de Teresina, cristãos devem se inspirar em Jesus para denunciar sofrimentos

Os cristãos celebram, nesta Sexta-feira Santa (18), a Paixão e Morte de Jesus Cristo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Piauí é o estado mais católico do Brasil, com cerca de 85% da população aderindo a essa fé.

Na tradição cristã da Paixão, Jesus se entregou voluntariamente à morte por crucificação, acusado de blasfêmia e rebelião, para apagar os pecados dos homens e reconciliá-los com Deus.

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Dois mil anos depois, o sofrimento que Jesus padeceu no caminho até a cruz e pregado nela se reflete nos sofrimentos causados aos homens e mulheres de hoje, que devem ser denunciados pelos seguidores de Cristo. Essa é a meditação feita pelo arcebispo metropolitano de Teresina, Dom Juarez Marques.

Em conversa com o g1, o arcebispo lembrou que, na Bíblia, Jesus se identificou com os “pequenos e sofredores” ao ponto de afirmar que tudo o que se faz com eles – para ajudar ou prejudicar – é feito também com ele.

Dom Juarez destacou quatro situações que ofendem a dignidade humana e ocorrem com frequência no Piauí: feminicídios, mortes no trânsito, cooptação de jovens para facções criminosas e abusos contra crianças e adolescentes.

‘Mandamento do amor é recíproco’

Dom Juarez Marques, arcebispo de Teresina, beija os pés de Cristo crucificado

Eric Souza/g1

Conforme a Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI), 40 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2024 – ou seja, assassinatos motivados por violência doméstica ou discriminação de gênero.

Para o arcebispo, a ideia do homem como “cabeça” da mulher, desenvolvida por São Paulo no Novo Testamento, não pode ser entendida sem a ordem do apóstolo de que os maridos amem suas mulheres.

“O homem não é superior à mulher para fazê-la sofrer, desprezá-la ou humilhá-la. Ele é a cabeça no sentido de que é aquele que cuida. Esta compreensão de que os mais fortes devem subjugar os aparentemente mais frágeis despreza o mandamento do amor, que precisa ser recíproco”, apontou.

Respeito e olhar empático

Nos quatro primeiros meses de 2025, o Piauí também registrou 282 mortes no trânsito, de acordo com o Observatório do Trânsito da SSP. Os dados foram compilados pela pasta até 15 de abril.

Citando o papa Francisco, que disse que a paciência é uma “virtude bem próxima da esperança”, Dom Juarez observou que o olhar para o outro – especialmente aquele que está em uma posição inferior ou que inspira cuidados – deve ser empático.

“Quem tem o poder da chave de uma moto deve ter cuidado com o pedestre e o ciclista. De um carro, com o motociclista. Se eu olho para o outro com o desejo de destruição e inimizade, o aniquilo com a força do meu poder. É preciso respeitar os sinais e pensar duas vezes antes de xingar, buzinar, atropelar”, ressaltou.

Direito à família e educação

Dom Juarez Marques, arcebispo de Teresina, na capela da residência episcopal

Eric Souza/g1

As operações policiais contra a atuação de facções criminosas, que se estendem por comunidades marginalizadas de Teresina e outras cidades do estado, prendem frequentemente adolescentes e jovens adultos suspeitos de integrarem esses grupos.

Os adolescentes, ao lado das crianças, são vítimas igualmente de crimes hediondos como abusos físicos, sexuais e psicológicos. Apenas em 2024, o Piauí contabilizou 1.044 casos de estupro de vulnerável, revelou o relatório anual da SSP.

Dom Juarez refletiu que muitas crianças e jovens não têm o direito ou a possibilidade de serem criados por uma família estável e receberem uma educação de qualidade. Depois, no entanto, são expostos a uma rígida cobrança social.

“Quando se destrói a possibilidade de os pais cuidarem dos filhos, de a criança e o jovem serem educados, e se quer corrigir através da força bruta, dos castigos e das penas, [isso] é agir de uma forma hipócrita. Eles têm direito a encontrar, na igreja e na sociedade, o cuidado mútuo e de serem defendidos com responsabilidade”, avaliou.

Obediência por meio das obras

Essas violências podem remeter à Paixão de Cristo e despertar uma reflexão: o que os seguidores de Jesus podem fazer, além da oração, de forma concreta, para erradicá-las ou ao menos reduzi-las?

O arcebispo de Teresina considerou que a fé cristã deve contemplar dois aspectos fundamentais: oração e ação, no sentido de contemplação e comprometimento com a vida.

“Jesus sofreu na cruz e morreu por todos os que o obedecem, como diz a Carta aos Hebreus. Nesse momento, é importante e necessário obedecê-lo por meio das obras e da escuta. Onde há um lugar em que a vida é atentada, em um mundo de injustiças, devo denunciar o mal e anunciar o bem. Esse é o peso da cruz”, completou.

Dom Juarez Marques, arcebispo de Teresina, ora diante da cruz de Cristo

Eric Souza/g1

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