Bactérias super-resistentes foram encontradas em aves selvagens em centro de reabilitação de animais em Santos, SP
Tamires Aparecida Serra Lorenzi/Unesp São Vicente e Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal
Pesquisadores identificaram bactérias super-resistentes em duas aves silvestres no Orquidário de Santos, no litoral de São Paulo. Os clones de Escherichia coli, comuns em infecções hospitalares humanas, foram encontrados no trato intestinal de um urubu e uma coruja.
Segundo o professor Fábio Sellera, da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), o problema da resistência bacteriana é típico de ambientes hospitalares, mas tem se espalhado para áreas naturais. “Esses animais não deveriam ter contato com antibióticos na natureza”, afirmou ao g1.
✅Clique aqui para seguir o canal do g1 Santos no WhatsApp.
A bactéria faz parte da microbiota intestinal de humanos e animais, mas preocupa por apresentar resistência a diversos antibióticos de importância clínica. "Isso mostra o quê? Que o problema da resistência, hoje, está muito além do ambiente hospitalar humano", disse.
Segundo Sellera, animais selvagens de várias partes do mundo têm carregado bactérias resistentes. O estudo no Orquidário, além de investigar se algum deles estava colonizado, também foi importante, pois analisou as características genéticas dessas bactérias.
Como foi feita a análise
Swab [imagem ilustrativa]
Ascom/IMD/UFRN
O estudo analisou 49 animais do Orquidário. As coletas foram feitas com swab estéril, introduzido no reto (mamíferos), cloaca (aves e répteis) ou por meio das fezes, um procedimento considerado simples.
A pesquisa foi pontual, realizada em junho do ano passado. Apesar de colonizados, os dois animais não estavam infectados, apenas carregavam a bactéria. O urubu chegou debilitado, com múltiplas fraturas, e foi eutanasiado. A coruja está em reabilitação há 10 anos e permanece assintomática.
Sellera afirmou que estudos como o realizado no Orquidário são raros, mas essenciais para entender a vida selvagem. Segundo ele, deveriam ser rotina, embora hoje aconteçam mais por interesse científico do que por prática institucional.
Contaminação desconhecida
Ainda não há certeza sobre como os animais foram contaminados. A hipótese é que vivem em ambientes naturais já expostos a bactérias resistentes.
“É uma adaptação dessas bactérias que eram humanas em animais. Isso não é bom. Eu começo a ter nos animais selvagens bactérias com perfil de resistência semelhante aos encontrados em ambientes hospitalares humanos".
O pesquisador afirmou que não há motivo para pânico e lamentou a presença das bactérias no ambiente, destacando que, embora a situação seja preocupante, estudos como esse são fundamentais para compreender melhor o cenário atual.
O trabalho tem como autores os alunos Bruna Garcia e Matheus Silva, da Unimes, orientados por Sellera, e Guilherme Paiva, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, sob coordenação do professor Nilton Lincopan.
Veja também: Orquidário abriga corujas resgatadas
É o Bicho: Orquidário de Santos abriga corujas resgatadas no município
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos