Após coma, enfermeiro de Uberlândia teve cura milagrosa atribuída à então Beata Elena Guerra. Ela foi proclamada santa em outubro de 2024 durante celebração do "Dia Mundial das Missões", junto a outros 13 novos santos católicos. Vaticano reconheceu cura de Paulo Gontijo como milagre atribuído à Santa Elena Guerra
Reprodução / TV Integração
Uma das últimas santas canonizadas pelo papa Francisco foi reconhecida após um milagre ocorrido em Minas Gerais. A freira italiana Elena Guerra se tornou santa da Igreja Católica junto a outros 13 novos santos canonizados no Dia Mundial das Missões, em outubro do ano passado, seis meses antes da morte do pontífice. A cura do enfermeiro de Uberlândia Paulo Gontijo, inexplicável para a Medicina, foi decisiva para o processo de canonização no Vaticano.
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A história que resultou no decreto do papa Francisco, que reconheceu o milagre atribuído à beata e abriu caminho para que ela se tornasse santa, começou em 2010 com o grave acidente doméstico de Paulo.
Na época, o enfermeiro aposentado tinha 49 anos e sofreu um grave traumatismo craniano depois de bater a cabeça no chão. Ele caiu de uma árvore de seis metros de altura enquanto fazia uma poda e chegou a ser tratado com um protocolo de morte encefálica.
Após 25 dias em coma no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), os médicos deram poucas chances de sobrevivência ao paciente, em razão dos danos causados pela queda. Caso se salvasse, Paulo teria sequelas graves.
Mesmo com a gravidade, a família de Paulo pediu ao pároco da igreja que frequentavam no Bairro Santa Mônica, William Eurípedes Garcia, para que o fiel recebesse a extrema unção - sacramento católico que consiste na unção do enfermo acompanhada de uma oração - na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
"Eu levei o sangue de Cristo, que é o vinho consagrado, com a intenção de pingar algumas gotas na língua dele, para que ele pudesse ter ali a presença de Cristo vivo e ressuscitado junto dele. Eu coloquei essas três gotas na língua do Paulo, onde ele abruptamente reagiu de maneira brusca ao tocar o sangue na língua, uma pessoa que já estava com o quadro de morte, ter esses movimentos bruscos foi surpreendente. Eu fui pego de surpresa com esse milagre que foi imediato", lembrou o padre.
Paulo também se lembrou do momento milagroso com devoção.
"Quando pingou as gotas na minha boca eu abri o olho, quis levantar, deitei de novo. Aí, o doutor Milton [médico do paciente] mandou parar, falou 'para tudo, o cérebro do Paulo está normal, volta do jeito que está'. Eu voltei e fui recuperando", recordou Paulo Gontijo.
Fé e oração à Elena Guerra curaram o enfermeiro católico
Após o acidente, uma corrente de oração entre amigos, familiares e a comunidade católica do Bairro Santa Mônica foi iniciada.
"Enquanto o Paulo estava no hospital, parentes e amigos vinham até nossa casa para rezar terços e rosários para Elena Guerra. Nós também começamos uma novena no hospital pedindo a intercessão da beata. Eu comecei a pedir para que ela pedisse a Jesus por um milagre surpreendente, para mostrar para toda a gente o poder do sangue de jesus", contou a esposa de Paulo, Maria Roseli Gontijo.
Após a investigação e reunião dos documentos, em 2013, a Diocese de Uberlândia encerrou o processo e encaminhou para Roma. Neste dia que encerrou as investigações no Brasil, os documentos foram lacrados e enviados para a Santa Sé, para a Congregação da Causa dos Santos.
Além disso, vários encontros foram realizados na Itália ao longo desses anos com representantes da igreja, e após quase 15 anos desde o acidente do uberlandense, o papa Francisco promulgou o decreto que reconheceu o milagre da beata no Brasil.
O processo de canonização pela Igreja Católica funciona da seguinte forma:
Inicia-se uma investigação após um milagre atribuído ao candidato a santo.
Solicita-se a abertura oficial da causa de canonização.
Nomeia-se um responsável pelo acompanhamento do processo.
Investiga-se a fama de santidade do candidato.
Comprova-se um milagre ocorrido após a morte do religioso.
O religioso então é beatificado.
Comprova-se um segundo milagre, agora após a beatificação.
Após decreto do papa, então, o beato é proclamado santo.
Elena Guerra: a apóstola do Espírito Santo
De acordo com publicações especializadas na doutrina católica, Elena Guerra nasceu no dia 23 de junho de 1835, na cidade de Lucca à beira do rio Serchio, na região da Toscana. Aos 19 anos, estudou enfermagem e trabalhou cuidando de doentes afetados pela pandemia de cólera na Europa.
Após se dedicar aos cuidados do próximo, Elena ficou por 8 anos em cima de uma cama devido a uma doença desconhecida. Foi nessa época que se dedicou à meditação da Bíblia e ao estudo dos padres da igreja.
Em 1865, curada, a jovem assistiu a uma sessão do Concílio Vaticano I, onde foram discutidas as questões doutrinárias necessárias para espalhar a fé. Elena sentiu ainda mais a necessidade de criar uma comunidade religiosa. Ela então idealizou a primeira Associação de Amigas Espirituais, que reunia jovens de Lucca e outras cidades.
Ao longo do tempo, o grupo cresceu e se tornou a Congregação das Irmãs de Santa Zita, de quem Elena Guerra era muito devota. Em 1897, ela foi recebida pelo papa Leão XIII, que a encorajou a continuar com seu apostolado e sugeriu a mudança do nome de sua congregação para Oblatas do Espírito Santo. Elena passou a ser conhecida entre os católicos como "Apóstola do Espírito Santo".
Elena morreu em 11 de abril de 1914, em um sábado na véspera da Páscoa, deixando um legado de cuidado e amor pelo próximo, sendo reconhecida em 1959 como beata pelo papa João XXIII.
No Brasil, é conhecida e dá nome às escolas de formação religiosa e também de ensino infantil. Mas foi no grupo de orações de Minas Gerais, no qual a família de Paulo participava, que a fé em Elena Guerra levou à cura do homem que estava desenganado pela Medicina.
Santa Elena Guerra
Reprodução/Redes sociais
Paulo Gontijo internado, em coma, em Uberlândia em 2010
Arquivo Pessoal
Paulo Gontijo e Padre William em visita a Itália, onde morou a Santa Elena Guerra
Henrique Mendes/Diocese de Uberlândia
Quarto em que dormia Elena Guerra
Henrique Mendes/Diocese de Uberlândia
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Oração à beata Elena Guerra
“Ó Deus, que destes à Beata Helena Guerra a graça de compreender a importância e a força do vosso Espírito Santo, dai também a nós a graça de experimentá-lo em nossas vidas, para que, como a Beata Helena, possamos dedicar nossas vidas ao amor verdadeiro por todos os que mais necessitam. Amém. Beata Helena Guerra, rogai por nós.”
Tumulo de Elena Guerra, em Lucca, na Itália
Divulgação
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