Só no século 20, em 1914, é que o Vaticano começou a distinguir entre o branco, para quando um papa é eleito, e o preto, sem vencedor. É uma tradição recente. Por que, quando e como o Vaticano começou a usar fumaça para anunciar o resultado de um conclave?
O uso da fumaça preta ou branca como sinal do resultado da votação tem história na Igreja Católica. Quem conta é o Murilo Salviano.
O primeiro sinal sobre o futuro da Igreja vem de cima. É de uma chaminé discreta que sai a fumaça indicando se temos ou não um novo papa. O historiador italiano Roberto Rigoli contou que essa tradição surgiu para manter o sigilo do conclave.
E só no século 20, em 1914, é que o Vaticano começou a distinguir entre o branco, para quando um papa é eleito, e o preto, sem vencedor. É uma tradição recente.
Guia do conclave: quando começa, quanto tempo deve durar, quantos cardeais participam e mais
Conclave: uso da fumaça como sinal do resultado tem história na Igreja; ciência explica coloração
Reprodução/TV Globo
É tradição, mas tem ciência também. O químico italiano Andrea Sella explicou que para fazer uma fumaça - como essa do Vaticano - é preciso lançar partículas sólidas no ar, em grande quantidade. Só assim para bloquear a passagem de luz e tornar a fumaça bem visível.
O segredo da fumaça preta, revela o professor, é queimar materiais ricos em carbono - como folhas secas e serragem - em alta temperatura. Já para a fumaça branca é preciso queimar algum material molhado, como palha, madeira, folhas. Mas tem que estar bastante úmido.
Só que esse método não era infalível. A fumaça podia acabar ficando meio cinza. E aí não dava para saber o resultado. Foi o que aconteceu no ano de 1958, na eleição do sucessor do Papa Pio XII. O povo na Praça São Pedro não entendia se a fumaça estava preta ou branca. Teve uma variação de cor. Os historiadores contam que foram vários alarmes falsos.
Depois disso, o Vaticano foi aprimorando essa técnica e passou a misturar componentes químicos para garantir uma fumaça espessa e da cor correta. No laboratório, o professor mostra esses aditivos que foram usados nos últimos dois conclaves. Para fumaça ficar bem preta, eles misturam:
perclorato de potássio, usado na indústria pirotécnica;
enxofre, que ajuda a aumentar a temperatura da chama;
e antroceno, uma substância pra fazer corante.
Já para tão esperada fumaça branca:
lactose;
clorato de potássio;
e resina.
Quer ver como funciona na prática? O professor mistura os ingredientes, lança algumas gotas de ácido sulfúrico concentrado. Ecco!
Dentro da Capela Sistina, os cardeais usam dois fornos que foram cuidadosamente instalados por uma equipe de bombeiros. Em um deles, de ferro, são queimadas as cédulas da votação. No outro, com ignição eletrônica, são queimadas as substâncias que vão gerar os sinais de fumaça. É o sinal que o mundo inteiro está esperando. Como nos velhos tempos.
O historiador italiano diz que, claro, existem formas mais modernas de se fazer um anúncio. Redes sociais, vídeos. Mas a materialidade da fumaça e o badalar dos sinos - que acompanha a decisão em caso de fumaça branca - são uma forma de experiência coletiva para os católicos. O cientista concorda:
"É um momento humano extraordinário. Daria para modernizar, sim, mas é preciso ter cuidado para não destruir o simbolismo que esses rituais carregam”.
LEIA TAMBÉM
Conclave: quem são os favoritos para suceder o papa Francisco
'Extra omnes', ou 'Todos para fora': o momento em que a Capela Sistina é selada para o conclave; entenda a simbologia e veja VÍDEO
Como surgiram os cardeais, que decidirão o futuro do comando da Igreja Católica
Os memes do conclave: as brincadeiras em torno da votação para definir próximo papa