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Dificuldades dos microempreendedores individuais mostram importância da educação financeira


Dificuldades dos microempreendedores individuais mostram importância da educação financeira

No período de dez anos, o mercado de trabalho no Brasil registrou um movimento impressionante de cidadãos que se tornaram microempreendedores individuais. A intenção desse contingente enorme de trabalhadores é a de empreender e progredir. E nem todos têm consciência da necessidade de se planejar para garantir o equilíbrio das contas.

A Nathalia e o Marcos se conheceram há dois anos e logo foram morar juntos. Nem procure pelos dois em casa. Um típico casal MEI só se encontra bem tarde da noite. E no desejo de trabalhar no próprio negócio.

O Marcos leva executivos pela Grande São Paulo. Sai sem hora para voltar.

"Minha rotina consiste em acordar cedo, lavo carro sempre, atendo meus clientes sempre com um carro limpo. 16 horas por dia. Sai de manhã e chega só à noite", afirma Marcos Braga, motorista e microempreendedor.

O microempreendedorismo individual é um regime de trabalho criado em 2008 que incentivou a formalização de milhões de pequenos negócios e trabalhadores autônomos com faturamento anual atualmente limitado a R$ 81 mil, – R$ 6.750 por mês.

Um fenômeno no Brasil: em dez anos, o número de MEIs saiu de 5 para 16 milhões de trabalhadores.

Repórter: está valendo a pena?

Marcos: O custo é muito alto: combustível, manutenção, seguro, mas em comparação ao trabalho que eu tinha antes CLT na parte administrativa, sim, vale mais a pena.

Repórter: tira mais dinheiro?

Marcos: Sim, mas também tem uma variação muito grande de mês para mês.

Se precisam de financiamentos, microempreendedores normalmente pagam taxas mais altas do que trabalhadores com carteira assinada ou empresários. E isso pode deixar o caminho mais longo.

"Uma das coisas que me ajudou a comprar o carro foi movimentação financeira, mas, realmente, questão de idade para liberação de crédito e comprovação de renda é um pouquinho difícil mesmo", diz Marcos.

Marcos leva executivos pela Grande São Paulo

Reprodução/TV Globo

Tem MEI em várias fases da vida e no Brasil todo. Mas a maior parte em Minas, Rio e São Paulo e a principal atividade é cabeleireiro, pedicure e manicure. A Nathália não para nem para essa entrevista.

"Menina, minha vida é bem complicada. Eu trabalho mais de 12 horas por dia, tudo sozinha. Minha gestão, agendamento, cliente, feedback. E a compra dos materiais, faço meu marketing, minhas postagens. Super difícil, porque haja tempo", relata Nathália Trindade da Cunha, microempreendedora.

A Nathalia quase não tem tempo para descansar, muito menos estudar. E isso pode atrasar o crescimento do trabalhador e do país. Essa é a opinião do professor de economia da Fundação Getulio Vargas Márcio Holland.

"É um grande desafio aumentar a produtividade do trabalho no Brasil. O MEI muito provavelmente está corroendo essa agenda de ganho de produtividade de trabalho. Você tem acesso muito limitado ao mercado de crédito, ao sistema bancário. Joga contra um crescimento maior de longo prazo no país. Então esse é o caso do Brasil, de um empreendedor voltado para formalizar algo que já acontecia sem a cultura da inovação, sem a cultura da expansão do crescimento, de ganho de eficiência e produtividade".

Para o país e para os microempreendedores crescerem a saída é uma só: poupar. Na ótica dos economistas: se a renda é menor do que gasto a tendência é para baixo. Se a renda é igual ao gasto o melhor que pode acontecer é tudo ficar como está. E a fórmula para o sucesso financeiro, segundo os economistas: renda é igual ao gasto mais poupança. É isso que pode fazer toda a diferença.

O Marcos quer ser patrão. Ter uma empresa de motoristas de executivos.

"Eu preciso agora organizar para eu poder aprender o inglês e eu vou ter que tirar um tempo para isso".

A Nathália quer ter marca própria.

"É uma chance de eu crescer, porque se eu não for, eu não vou saber se vai dar certo. Eu tenho que ter meu espacinho, eu tenho condições, eu tenho certeza que vai dar certo".

Nathália fazendo as unhas de uma cliente

Reprodução/TV Globo

O Jornal Nacional perguntou para os especialistas em finanças como realizar esse sonho. O salão do Nathália, assim como qualquer empresa, custa: investimento inicial, mais capital de giro, que é o dinheiro em caixa, mais reservas para três meses de despesas. Nesse caso: R$ 100 mil. Esse é o objetivo da Nathália. Ela tem guardado R$ 1.000 por mês em uma aplicação conservadora e deve realizar alcançar o objetivo em mais ou menos se anos. Agora, se ela aumentar para R$1.500 por mês na mesma aplicação, consegue encurtar o tempo para 5 anos.

"Existem três fatores apenas nessa matemática, que é o quanto você poupa, o tempo e a taxa de juros. Os dois únicos fatores que você controla é o tempo e o quanto você poupa. Faz muita diferença o quanto você poupa para antecipar esse sonho que você quer ter no futuro, que você quer alcançar. Quanto mais você faz agora para esse planejamento futuro, mais recompensador vai ser o futuro, né?", explica Michael Viriato, estrategista de investimentos.

"Está começando numa salinha, mas tenho certeza que vou daqui uns dias ter pessoas trabalhando para mim. Eu já dou curso, já tenho bastante alunas e tenho certeza que vou ter oportunidade de empregar muitas pessoas".

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Reprodução/TV Globo

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