Artesã Jadiça Iris Alves trabalha há 20 anos com cera de abelha italiana e tem clientes em Roraima e até no Nordeste. Artesã Jadiça Iris Alves trabalha com cera de abelha
Carlos Barroco/Rede Amazônica
Há mais de 20 anos, a artesã Jadiça Iris Alves encontrou na cera de abelha italiana uma maneira de empreender em Boa Vista. Pioneira no uso do material, cria peças artesanais, entre elas flores, bijuterias e até licores, para garantir renda própria e até como terapia para encarar o luto da perda do marido. No ateliê, montado em casa, Jadiça mantém o negócio sustentável e inovador, o "Império do Mel".
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🐝 A artesã garante o sustento com a cera de abelha e lucra, em média, R$ 1.800 por mês. Os produtos chegam a clientes em Roraima e também em estados do Nordeste, incluindo Pernambuco e Maranhão.
O trabalho começa na cozinha de casa, com a cera sendo aquecida na panela. É o início da produção artesanal que Jadiça realiza há mais de duas décadas. O material vem do favo de mel, por isso é chamado de cera de abelha.
Na panela, a cera é derretida e depois despejada sobre uma tábua para resfriamento. Ao raspar a superfície, surgem as placas de cera prontas para serem moldadas com ferramentas em diferentes formatos.
Arranjos feitos pela artesã Jadiça Iris Alves, em Boa Vista
Carlos Barroco/Rede Amazônica
Jadiça usa as placas para criar pétalas de rosa ou moldes em formato de folha, dependendo da peça que está fazendo. Após os retoques, a peça final vai para as prateleiras, onde estão reunidos outros produtos feitos com a mesma técnica. Há itens de diversos tamanhos e usos, além de licores produzidos a partir do mel de abelha.
"Tem os vasos decorados, tem os arranjos e tem também o licor de mel que eu faço, de 7 ervas, gostam muito", conta, explicando detalhadamente como é o processo criativo das peças.
"Tem que ir para o fogo em banho Maria para poder derreter a cera. Tem que derreter ela porque não pode botar diretamente na panela. Agora para ficar assim tem que aviolar [dar forma ou textura à cera]", resumiu Jadiça.
Apoio emocional diante do luto
No ateliê, Jadiça produz velas, porta joias, brincos, ímã de geladeiras - uma infinidade de produtos. A cera de abelha, matéria-prima fundamental para os itens, ela adquire numa cooperativa do estado.
O trabalho, além de atrair clientes pela maneira como é feito, também a ajudou emocionalmente quando, há dois anos, o marido Aroldo Batista faleceu. Ele fazia uma cirurgia de ponte de safena no coração e não resistiu.
"Perdi meu marido e minha terapia foi mais o artesanato. É uma terapia muito grande, se não for esse, faço outro tipo de artesanato. Na época da Covid mesmo, na pandemia, trabalhei os dois anos direto em casa com artesanato e isso ajudou muito" , lembrou.
Juntos, o casal teve dois filhos e um casal de netos. O trabalho foi um dois pilares que a sustentou sã: "Ajudou muito, muito, muito", frisou.
A psicóloga clínica Alessandra Augusto, que é pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental e em Neuropsicopedagogia, explica que fazer trabalhos artísticos como os de Jadiça pode ser uma ferramenta terapêutica no luto, tendo em vista que proporciona uma maneira criativa e produtiva de lidar com o sofrimento e a perda.
"O trauma nos cala. E o artesanato e a arte acaba falando, acaba sendo uma forma de você expressar essa fala. Ajuda a transformar essa dor, dando cor, fazendo essa criação. Então, é muito válido nas questões do trauma, para uma ressignificação. Principalmente na separação e no luto", explicou.
Alessandra ainda acrescentou que esses trabalhos mais manuais funcionam como meditação ativa e ajudam pacientes que estão com estado de ansiedade, além de auxiliar na autoestima.
"Quando o paciente presencia a obra feita e finalizada se sente mais capaz, consegue entender a força, talento e esforço que tem e isso melhora muito a autoestima", reforçou a psicóloga.
E trabalhar com a cera, para a Jadiça, é mais que artesanato: é uma maneira como ela consegue explorar a própria criatividade pôr em prática sempre novas ideias. "Penso em criar mais artes com a cera. É muito importante e é uma coisa diferente. É um trabalho inédito".
Desafios do empreendedorismo feminino
O empreendedorismo feminino ainda enfrenta dificuldades para avançar. Isso porque elas ainda enfrentam desafios situações cotidianas ter jornadas triplas como obrigações diárias, tanto como empreendedoras, como mães, como donas de casa, conforme o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebre) em Roraima. Diante disso, a instituição oferta oferta o projeto "Sebrae Delas", que é um programa específico para encarar as dificuldades e fazer com que mulheres saiam informalidade.
"É exclusivo para mulheres. Nós incentivamos o empreendedorismo feminino com mulheres já formalizadas e também com mulheres que já empreendem mas ainda não têm seu negócio formalizado. É um projeto que vem pra trazer capacitação, consultorias, acesso ao mercado, feiras e muitas outras soluções do empreendedorismo para essas mulheres", explicou Kamyla Brasil, Gestora do projeto Sebrae Delas.
Jadiça no ateliê com as peças que produz a partir da cera de abelha
Carlos Barroco/Rede Amazônica
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