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Empresário do PR investigado por aplicar golpes: vítima comprou duas usinas, recebeu só uma e ficou com dívida de mais de R$ 1 milhão, diz advogado


Vítimas não recebem usinas solares e ficam com dívidas

Uma das vítimas do empresário Lauro Bianchin, de Umuarama, no noroeste do Paraná , contou que comprou duas usinas de energia solar dele, recebeu só uma e ficou com uma dívida de mais de R$ 1 milhão. A informação foi dada pelo advogado da vítima, Vitor Pagani, em entrevista à RPC, afiliada da TV Globo no Paraná.

Lauro é dono da Yaw Energia Sustentável e está sendo investigado pela Polícia Civil (PC-PR) pelos crimes de estelionato e lavagem de dinheiro. Em nota ao g1, a defesa afirmou que ele é inocente. Veja abaixo a nota na íntegra.

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A vítima é um homem de 62 anos, morador de Maria Helena, que fica na mesma região. Foi ele quem registrou o boletim de ocorrência que deu início a investigação no dia 5 de maio deste ano.

No registro, a vítima declarou que assinou contrato de compra de duas usinas de energia solar e um contrato de arrendamento das usinas e da energia gerada. Ele contou que, na época, quem lhe apresentou o modelo de negócio pessoalmente, foi Lauro.

A promessa do empresário era de que a energia gerada pelas usinas iria render mensalmente R$ 8 mil, durante 8 anos. Contudo, para a instalação das usinas, era preciso fazer um financiamento, cujas parcelas seriam custeadas pela própria empresa contratada pela vítima.

O delegado Gabriel Menezes explicou que a vítima foi orientada pelo investigado a assinar uma proposta de compra das usinas e uma autorização para verificação de crédito. Entretanto, após alguns dias, a vítima recebeu a informação de que havia sido feito um contrato de empréstimo de crédito rural em nome dela na Caixa Econômica Federal de Paranavaí, no valor de R$ 1.200.000,00.

A vítima disse no boletim de ocorrência que não foi informada a respeito da contratação do crédito e que as parcelas foram quitadas pelo empresário.

Uma das usinas que foram entregues à vitima.

Reprodução/RPC

O advogado da vítima ainda contou que das duas usinas compradas, apenas uma foi entregue. Isso porque na instalação da segunda, a Companhia Paranaense de Energia (Copel) exigiu pagamento de R$ 5 milhões para fazer melhoria na rede de distribuição, mas o valor não foi pago por Lauro, mesmo ele tendo recebido o valor da Caixa.

"Além da venda ao produtor, ele arrenda a usina do produtor e todo o crédito gerado da usina ele usaria para pagar uma operação financeira que ele faria em nome do produtor para comprar a usina. Isso que ele promete. Ele diz: 'Você produtor, não precisa tirar dinheiro do bolso, eu pago tudo'. Mas com essa operação do banco, o dinheiro da renda de energia da usina é usado para pagar. O problema começou quando ele não entregou as usinas físicas que ele vendeu, então a usina não produz, não gera crédito, e ele não paga nem a operação e nem o produtor, que fica com a dívida", explicou o Pagani.

O problema fez com o que o nome da vítima fosse negativado e existe o risco de que ela perca o patrimônio para pagamento da dívida. Além do morador de Maria Helena, o advogado contou que atende outro cliente de Cianorte, que comprou quatro usinas, mas não recebeu nenhuma.

Pagani disse ainda que está pedindo, junto com outros advogados, a nulidade do contrato, justificando que a empresa mentia para os produtores, fazendo ele assinarem sem lerem o documento. Ele também questionou sobre a atuação da Caixa, dizendo que não foi necessário mostrar o projeto da usina e nem ter a presença do comprador para fechar a assinatura.

Em nota ao g1, a Caixa Econômica Federal disse que está auxiliando as autoridades. Veja abaixo a nota na íntegra:

"A CAIXA informa que atua conjuntamente com os órgãos de segurança pública nas investigações e operações que envolvem a instituição. Tais informações são consideradas sigilosas e repassadas exclusivamente às autoridades competentes, para análise e investigação. O banco aperfeiçoa continuamente os critérios de segurança em movimentações financeiras, acompanhando as melhores práticas de mercado e as evoluções necessárias diante dos modus operandi identificados. Adicionalmente, a CAIXA ressalta que monitora ininterruptamente seus produtos, serviços e transações bancárias como objetivo de identificar e investigar casos suspeitos. A instituição também esclarece que possui estratégias, políticas e procedimentos de segurança para a proteção dos dados e operações de seus clientes, contando com tecnologias e equipes especializadas para garantir a segurança de seus processos e canais de atendimento", informou a nota.

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Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços do empresário

Documentos, um celular, pistolas e munições foram apreendidas nos endereços do empresário.

Polícia Civil (PC-PR)

Na terça-feira (9), a Polícia Civil cumpriu dois mandados de busca de apreensão na casa do empresário e na sede da empresa, que fica no Parque Residencial da Gávea.

Durante as buscas, os policiais apreenderam documentos e o celular do empresário. Segundo o delegado, o aparelho vai passar por análise.

Os agentes também encontraram duas pistolas e quatro munições no endereço do empresário. Ele tinha autorização para portar as armas, mas não em relação às munições.

Por isso, ele foi autuado em flagrante por posse ilegal de munições e levado para a delegacia. Em seguida, ele pagou fiança de R$ 2 mil e foi liberado.

Segundo o delegado Gabriel Menezes, foi apurado durante a investigação que o empresário, até o momento, os golpes foram registrados em Paranavaí, Maria Helena, Assis Chateaubriand e Marechal Cândido Rondon, e somam um prejuízo de R$ 13.531.273,00.

Em nota ao g1, o advogado Emanuel Braga Claudiano, que atua na defesa de Lauro, disse que a situação não passa de uma "singela divergência de natureza estritamente comercial" e que o empresário é inocente. Veja abaixo a nota na íntegra:

"A defesa de Lauro Bianchin vem a público para esclarecer e desmentir veementemente as informações divulgadas em matérias jornalísticas na data de ontem, as quais procuram atribuir-lhe envolvimento em supostos atos ilícitos. O Sr. Lauro esclarece que as reportagens contêm inúmeras lacunas, inverdades e distorções a respeito dos fatos, sobre os quais sequer foi ouvido, impedida, assim, a elucidação do que realmente ocorrera. Crive-se apenas, e neste momento, que a situação em questão não passa de singela divergência de natureza estritamente comercial, que está sendo devidamente tratada nas esferas apropriadas. Não houve, em nenhum momento, a prática de qualquer ato ilícito ou crime, de qualquer natureza. Reforçamos que o Sr. Lauro é inocente e, desde o primeiro instante, se colocou à disposição para colaborar com as autoridades competentes para que a verdade seja restabelecida, na medida em que nada, absolutamente nada, tem a omitir. Confia plenamente nos órgãos da Polícia e da Justiça, os quais certamente terão a sensibilidade técnica de, a seu tempo, reconhecer sua inocência e provar que as suspeitas são despidas de fundamentação. Qualquer outra informação adicional sobre o caso será divulgada oportunamente por sua assessoria jurídica", informou a nota.

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Investigação apurou que casos semelhantes foram registrados em várias cidades do Paraná

O delegado afirma que durante a investigação foram descobertos diversos registros de boletins de ocorrência em várias cidades do Paraná contra o mesmo empresário e com a mesma narrativa do golpe. Menezes informou que até o momento foram registrados os seguintes casos:

Paranavaí: R$ 2.760.000,00;

Paranavaí: R$ 2.240.000,00;

Assis Chateaubriand: R$ 1.159.705,00;

Assis Chateaubriand: R$ 4.071.568,00;

Marechal Cândido do Rondon: R$ 2.100.000,00.

"Apesar de o golpe ter sido praticado em diversos municípios, todos os financiamentos foram realizados junto a Caixa Econômica Federal do município de Paranavaí. As operações bancárias são realizadas diretamente pelo investigado, com transferência dos valores para sua empresa, sem que as usinas sejam instaladas ou haja pagamento dos valores financiados", explicou o delegado.

Menezes contou que a delegacia de Umuarama recebeu um documento da Polícia Federal de Maringá, contendo denúncias contra o empresário sobre o mesmo tipo de golpe.

A denúncia apontou que cerca de 80 produtores rurais das regiões de Umuarama, Palotina, Assis Chateaubriand, Paranavaí, Amaporã dizem ter realizado o mesmo tipo de contratação com a empresa e receberam o serviço prometido.

O delegado orienta que pessoas que se identifiquem como vítimas do golpe e que tiveram prejuízos semelhantes, procurem a unidade policial mais próxima para registro de ocorrência.

O caso continua sendo investigado pela Polícia Civil (PC-PR).

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