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‘Eu não quero uma nota, sr. governador Cláudio Castro. A sua nota não faz a minha dor passar’, diz mãe de Herus


Mônica e Fernando, pais de Herus Guimarães Mendes, o jovem de 24 anos morto em uma festa junina durante uma ação da PM no último sábado (7), participaram nesta segunda-feira (9) do 'Encontro com Patrícia Poeta'. Mãe lembrou ainda que filho foi arrastado e que o Bope retardou o socorro ao colocar uma grade. ‘O policial arrastou o meu filho pela escada’, diz mãe de Herus

Mônica e Fernando, pais de Herus Guimarães Mendes, o jovem de 24 anos morto em uma festa junina durante uma ação da PM no último sábado (7), participaram nesta segunda-feira (9) do “Encontro com Patrícia Poeta”.

A mãe do rapaz comentou a nota do governador Cláudio Castro (PL) enviada pela assessoria na tarde deste domingo (8), 36 horas depois da morte de Herus.

“Eu não quero uma nota, sr. governador Cláudio Castro. A sua nota não me ajuda. A sua nota não faz a minha dor passar. A sua nota não vai trazer o Herus para casa”, disse Mônica.

No enterro do filho, Mônica tinha afirmado que um agente do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) mudou o rapaz de lugar ao vê-lo baleado.

“O policial arrastou o meu filho pela escada e gritou que meu filho era vigia [do tráfico]. Botou uma grade para ninguém socorrer o meu filho”, declarou na ocasião.

“Já não consigo dormir, já não consigo comer. Eu vi tudo. Arrastaram o corpo do meu filho escada abaixo, o meu filho todo machucado”, repetiu Mônica a Patrícia.

Pais de Herus com Patricia Poeta

Reprodução/TV Globo

O que dizia a nota do governador

A declaração foi postada por volta das 15h45 de domingo nas redes do governador e disparada pelo núcleo de imprensa do Palácio Guanabara.

“Agora pela manhã, em uma reunião com os secretários de Estado de Segurança e da Polícia Militar, determinei o afastamento imediato dos responsáveis por autorizar a operação na madrugada de ontem, na comunidade do Santo Amaro, em meio a uma festa popular.

A ordem é que as apurações sejam feitas com extremo rigor e com agilidade, também por parte da Polícia Civil e da Corregedoria Interna da PM, que investigam o caso.

Em conversa com o Ministério Público, demos nossa garantia de que todas as imagens do evento, gravadas pelas câmeras corporais dos policiais, serão disponibilizadas para que as responsabilidades sejam apuradas.

Me solidarizo com os familiares e amigos do jovem Herus Guimarães Mendes e das outras vítimas que foram atingidas durante a festa. Sei que palavras não vão trazer ninguém de volta e nem diminuir a dor de se perder um ente querido, mas fica aqui a minha tristeza e indignação.

Governador Cláudio Castro”

Veja outros destaques da entrevista dos pais a Patrícia.

Como tudo aconteceu

O pai de Herus detalhou como foi a chegada do Bope até o tiroteio.

“Nós estávamos próximo à casa da minha sogra, que mora na localidade onde ocorre a festa junina. A minha esposa viu os policiais do Bope saindo de um acesso que tem lateral a uma vila. Nesse momento, ela só me puxou e nós entramos para dentro da casa da minha sogra — um quarto e sala de 35 m². Foram abrigadas mais de 40 pessoas, por alto. E aí houve a troca de tiros, porque os policiais entraram.”

A mãe prosseguiu com a descrição.

“Por onde eles entraram, que foi onde partiram os tiros — que inclusive meu filho foi assassinado —, eles deram de frente, assim que saíram, com a quadrilha [de dançarinos] em formação. Com roupas extremamente brilhosas. Não tem como não ver aquelas roupas, não tem como não ver a quantidade de criança que tinha ali. Não tem como, não tem explicação. Todo mundo se divertindo, todo mundo dançando, e eles já entraram atirando.”

Homenagem à esposa

Fernando pediu uma salva de palmas para a esposa, Mônica.

“Tem muita mãe que reclama da dor do parto. Posso falar para todas vocês que existem 2 dores que nenhuma mãe tem que passar na vida: uma é a dor de receber a notícia de um médico de que o seu filho não sobreviveu. A segunda dor é quando a gente está no cemitério, com o filho coberto por flores”, disse.

“Eu preciso muito, mas muito, pedir uma salva de palmas para essa mulher, Mônica Guimarães Mendes, pela força que ela está tendo aqui agora. Porque vocês não têm ideia do que ela passa para sobreviver. A minha esposa tem pressão alta, o coração dela só funciona com 50% da capacidade. Ela sobrevive diariamente. Então eu queria muito pedir uma salva de palmas de todo o Brasil pela força dela de estar aqui hoje, porque ela merece. Ela é uma mulher incrível. Ela é uma mulher mais corajosa que existe na face da Terra nesse momento.”

Integrante da trupe

A mãe lembrou que Herus dançava nessa quadrilha desde criança.

“O Herus pertencia a essa quadrilha. Eu dancei e passei para o Herus e a todos da minha família. O Herus parou de dançar depois que o Theo [filho dele] nasceu, porque a quadrilha faz competições, participa de campeonatos, e tudo é gasto. E o Herus tinha um filho de 2 anos para criar. Então para ele não ter que tirar do filho dele para botar na roupa, nas coisas que também não são baratas, para participar dos campeonatos, ele não dançava mais, mas ele sempre fazia questão de estar ali. Ele estava muito ansioso para ver a roupa do pessoal deste ano.”

Socorro dificultado

“Como taxaram ele de vigia [do tráfico], botaram uma grade para ninguém chegar perto”, declarou o pai.

“Um amigo dele e um outro rapaz que conseguiram furar esse bloqueio carregaram o corpo do meu filho. Eu vi o meu filho sendo carregado pelo amigo dele e pelo outro integrante da quadrilha — quadrilha junina. Botou o meu filho dentro do carro e levou o meu filho para o primeiro hospital que tinha, que foi ali o Glória D’Or. Graças a Deus, graças a tudo, graças à empresa onde trabalho, o plano de saúde cobria todo o processo. Mas infelizmente ele já chegou ao hospital já sem vida. A bala atingiu a veia femoral. O médico falou para mim que conseguiram ressuscitar o meu filho, mas depois não conseguiram mantê-lo vivo.”

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