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Juíza manda soltar universitário baleado por PM, e encaminha caso para Promotoria e Corregedoria: 'Indícios totalmente esvaziados'


Os dois foram acusados de envolvimento em um assalto. De acordo com as investigações, universitário pediu uma moto por aplicativo para sair do trabalho, na Penha, duas horas depois do horário que a mulher de um policial alega ter sido assaltada no mesmo bairro. Universitário é baleado na garupa de uma moto por PM da reserva

A Justiça do Rio mandou soltar o motociclista de aplicativo Thiago Marques Gonçalves e determinou o fim da custódia do universitário Igor Melo de Carvalho, que foi baleado e está internado em estado grave no Hospital Getúlio Vargas.

A decisão foi dada em audiência de custódia na tarde desta terça-feira (25). Os dois foram acusados por um casal de envolvimento em um assalto na noite de domingo (23), na Penha, na Zona Norte.

Igor, de 32 anos, foi baleado na volta para casa enquanto estava em uma corrida de aplicativo com um motociclista, que foi inicialmente preso.

O PM da reserva Carlos Alberto de Jesus admitiu a autoria dos disparos e disse que a dupla seria responsável pelo roubo do celular da esposa dele, Josilene da Silva Souza. O policial presta um novo depoimento nesta terça.

Thiago chegou a ser levado para o presídio em Benfica, na Zona Norte, de onde deve sair ainda nesta tarde. Igor estava sob custódia no hospital.

De acordo com as investigações, Igor pediu o transporte de moto por aplicativo para sair do trabalho, na Penha, duas horas depois do horário que a mulher do policial alega ter sido assaltada no mesmo bairro.

Em depoimento, a mulher do PM disse que estava no ponto de ônibus por volta das 23h de domingo (23), quando dois homens, um de camisa preta e um de camisa amarela, se aproximaram em uma moto azul. O de camisa amarela, que seria Igor, teria tirado o telefone celular da mão da declarante.

No entanto, as câmeras do estabelecimento onde Igor trabalha mostram que ele deixou o local 1h06 de segunda.

Policiais da delegacia conseguiram registros do aplicativo que mostram que Igor pediu o transporte para sair do bar Batuq, onde trabalhava, às 1h27.

Em imagens enviadas pelos familiares, é possível ver o momento em que Igor, por volta de 1h30, embarca na moto por aplicativo.

Segundo a família, no caminho Igor teria percebido que um veículo seguia a motocicleta. Minutos depois ouviu disparos e caiu da moto. Percebendo estar ferido, Igor conseguiu ligar para colegas de trabalho, que foram até o local e o levaram até o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha.

Os policiais ainda vão analisar imagens de câmeras próximas para ver se alguma delas registra o assalto contra a mulher e avaliar a rota da moto pilotada por Thiago, que iria levar Igor para casa quando foram alvos dos disparos.

'Indícios totalmente esvaziados'

Na decisão de soltar os dois, em audiência de custódia, a juíza Rachel Assad da Cunha, da 29ª Vara Criminal da Capital, relata os fatos e afirma:

"Portanto, todas as informações indicam que tanto Carlos Alberto quanto Josilene teriam confundido os ora custodiados com os supostos autores do crime de roubo, de forma que os indícios de autoria restam totalmente esvaziados, impondo a imediata soltura dos custodiados."

A juíza atende ainda a um pedido da defesa e encaminha cópias do processo para a Promotoria de Investigação Penal e a Corregedoria da Polícia Militar, que poderão investigar a conduta do policial da reserva.

Igor, o estudante baleado

Reprodução/Redes sociais

A equipe de reportagem da TV Globo tentou falar com Carlos Alberto, mas o policial não atendeu às ligações.

Igor também trabalhava no portal Vitrine Esportiva. Em nota, o Botafogo desejou uma pronta recuperação para o rapaz.

"Igor participou de inúmeros atendimentos à imprensa realizados pelo Clube e atuou sempre com profissionalismo e respeito com atletas, funcionários e colegas de profissão. Estamos juntos em pensamento positivos! O Clube cobra justiça e elucidação dos fatos!", disse o clube em suas redes sociais.

'Resolveram fazer justiça com as próprias mãos', desabafa prima

De acordo com a prima de Igor, a mulher do PM esteve no Hospital Getúlio Vargas e afirmou que ele não era um dos assaltantes.

Igor é estudante de publicidade e propaganda da faculdade Celso Lisboa. Ele também trabalha no local como inspetor, e, para complementar a renda, é garçom no bar onde pegou o moto por aplicativo.

Os parentes dizem que ele foi atingido pelas costas, passou por uma cirurgia, perdeu o rim e está com o estômago e intestino bastante afetados.

" Uma senhora foi assaltada e ela junto com seu marido, um policial da reserva, resolveram fazer justiça com as próprias mãos. Viram meu primo em cima de uma moto, um homem negro em cima de uma moto, e acharam que poderiam ter algum envolvimento com o assalto", diz Pâmela.

Igor está internado em estado grave

Reprodução/TV Globo

PM que atirou alega ter visto arma com Igor

No primeiro depoimento, o policial da reserva alegou ter visto uma arma na mão de Igor, que estava na garupa da moto.

Segundo Carlos Alberto, motoristas de outros veículos que estavam no local teriam dito que o motociclista e Igor estariam fazendo um arrastão. Imagens de câmeras de segurança, no entanto, mostram o momento em que Igor subiu na garupa da moto na porta do bar onde trabalha.

O PM da reserva disse ainda que não encontrou o celular da mulher nem a arma que supostamente estaria com Igor.

O que diz a polícia

Em nota, a Polícia Militar informou que agentes foram à Avenida Lobo Júnior, na Penha, para verificar uma ocorrência de invasão a domicílio.

No local, os agentes constataram que dois suspeitos, que trafegavam em uma motocicleta, foram alvos de disparos de arma de fogo efetuados por ocupantes de um veículo desconhecido. Um deles foi atingido e socorrido ao Hospital Estadual Getúlio Vargas.

O caso foi registrado na 22ª DP (Penha). O policial que atirou se apresentou como autor dos tiros e a esposa reconheceu o piloto da moto como um dos envolvidos no roubo do celular dela.

A Polícia Civil não disse por que Igor está internado sob custódia, uma vez que a mulher do PM reconheceu apenas o condutor da moto.

Segundo a direção do Hospital Getúlio Vargas, o estado de saúde de Igor é considerado grave.

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