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Lula diz que não vai se humilhar para debater tarifaço com Trump; veja como estão tentativas de negociação


Tarifaço do Trump: Lula descarta ligar pra americano e diz que debaterá crise com BRICS

Desde a madrugada desta quarta-feira (6), 36% dos produtos brasileiros vendidos para os Estados Unidos ficaram sujeitos a tarifas de 50%. A saúde financeira de empresas exportadoras e toda a cadeia de produção associada a esses produtos começam a sofrer os efeitos do tarifaço. E com os empregos ameaçados pela chantagem de Donald Trump, os setores mais afetados cobram ajuda do governo brasileiro.

Em julho, pelo sétimo mês seguido, o Brasil comprou mais do que vendeu para os Estados Unidos. Desde janeiro, o chamado déficit comercial passou de US$2 bilhões.

Um dos motivos alegados por Trump para o tarifaço seria um déficit para os Estados Unidos, o que não existe. Desde a madrugada, a alíquota de 50% está sendo aplicada sobre quase 36% das nossas vendas aos americanos, incluindo café, carne bovina, pescados e frutas.

Trump anunciou a chantagem tarifária no início de julho. No dia 21, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo estava preparando um plano de contingência para os setores mais afetados.

No dia 31, um dia depois de os Estados Unidos formalizarem a lista de exceções, Haddad reforçou que as medidas de contingência continuavam em preparação. Havia uma expectativa de que elas fossem anunciadas até esta quarta-feira, mas os detalhes ainda não saíram.

Nesta quarta-feira (6), o ministro da Fazenda voltou a dizer que o anúncio cabe ao presidente. Setores pedem linhas de crédito com juros baixos, adiamento do pagamento de impostos, compras governamentais e preservação de empregos. Haddad confirmou que novas linhas de crédito estão entre as iniciativas que devem ser implementadas por uma medida provisória.

"Vamos ter um plano muito detalhado para começar a atender, sobretudo, aqueles que são pequenos e não têm alternativas a exportações para os EUA, que é a preocupação maior do presidente".

Começa cobrança de sobretaxas dos EUA sobre produtos brasileiros; Trump equipara tarifas da Índia às do Brasil

Reprodução/TV Globo

Em outra frente, o governo brasileiro tenta reverter as novas tarifas americanas e questionou as sobretaxas diretamente na Organização Mundial do Comércio (OMC). É uma primeira etapa formal dentro do sistema de controvérsias da OMC. O próximo passo é que as duas partes busquem uma solução negociada para a disputa.

O governo brasileiro diz que, "ao impor as medidas, os EUA violam flagrantemente compromissos centrais assumidos na OMC, como o princípio da nação mais favorecida e os tetos tarifários negociados no âmbito daquela organização."

E que o "governo brasileiro reitera sua disposição para negociação e espera que as consultas contribuam para uma solução para a questão." A data e o local das consultas deverão ser acordados entre as duas partes nas próximas semanas.

Negociações

Além da ação na Organização Mundial no Comércio e das medidas de proteção aos setores. Outro fator é fundamental nessa crise - a negociação direta com os Estados Unidos, que não está avançando.

Em abril, Donald Trump anunciou aumento de tarifas para o mundo todo. No caso do Brasil, de 10%. Houve reuniões entre brasileiros e americanos no mesmo mês e também no seguinte, em maio, quando o governo brasileiro enviou uma carta para o secretário e ao representante de comércio americano. Mas não houve resposta.

Em julho, Trump anunciou o aumento da tarifa para 50%. O Brasil encaminhou uma segunda carta, também sem resposta.

Em 30 de julho, quando o ministro Mauro Vieira teve um encontro nos Estados Unidos, com o secretário de Estado Marco Rubio, o governo americano retirou quase 700 produtos do tarifaço.

Na última sexta-feira, em resposta à repórter Raquel Krähenbühl, Donald Trump se disse aberto ao diálogo com Lula. Mas, na terça-feira (5), em uma cerimônia em Brasília, o presidente brasileiro descartou negociar pessoalmente com o americano e disse que Trump não queria diálogo.

Nesta quarta-feira, em entrevista à agência de notícias Reuters, Lula repetiu que não está disposto a ligar para Trump.

"Eu não tenho porque ligar para o presidente Trump. Porque, nas cartas que ele mandou nas decisões, ele não fala em nenhum momento em negociação. O que ele faz são novas ameaças. E pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas, hoje, a minha intuição diz que ele não quer conversa, e eu não vou me humilhar", afirma Lula.

Na mesma entrevista, Lula disse que procuraria o BRICS. O bloco formado entre outros países: Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul.

"Amanhã, eu vou ligar para o presidente Modi, depois eu vou ligar para o presidente Xi Jin Ping, depois eu vou ligar para outros presidentes. E vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como é que cada um tá vendo a sua situação, qual a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão", disse também.

Essa intenção do presidente Lula não facilita um acordo com os Estados Unidos porque a decisão de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros foi anunciada dois dias depois da cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro.

Naquele encontro, os países discutiram a criação de um sistema monetário mais autônomo em relação ao dólar, que foi interpretada pelos americanos como uma ameaça. E, hoje, Trump fez um novo avanço sobre o BRICS: elevou de 25% para 50% a tarifa sobre produtos da Índia. Segundo ele, porque a Índia importa petróleo da Rússia.

Também nesta quarta, a China manifestou apoio ao Brasil na questão do tarifaço, em um telefonema do ministro das relações exteriores chinês para o assessor especial da presidência, Celso Amorim. Na agenda de uma negociação direta entre Brasil e Estados Unidos, por enquanto existe a perspectiva de uma reunião do ministro da fazenda Fernando Haddad com o secretário do tesouro americano.

"Vai ser na quarta-feira, já recebemos o e-mail confirmando dia e hora. Então, oficializando um interesse em conversar [...] Obviamente, vai depender da qualidade da conversa pode se desdobrar numa reunião de trabalho presencial, com os ânimos já orientados no sentido de um entendimento entre os dois países", afirmou.

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