Mãe de estudante enviou bolo de cenoura na lancheira da filha, diagnosticada com doença celíaca em grau grave. Escola oferece cardápio adaptado para celíacos, mas mãe teme risco de contaminação cruzada. Comida de criança celíaca vira polêmica em escola
Um bolo de cenoura com cobertura de chocolate motivou uma discussão entre pais e a Secretaria Municipal de Educação de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), no início do mês. O bolo, sem glúten, foi mandado pela Tayrine Novak na lancheira da filha, diagnosticada com a doença celíaca em grau grave.
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Após isso, a mãe de outro estudante se queixou que o doce era diferente da merenda que o filho e os demais comeram na escola naquele dia. Tayrine argumentou que se preocupa com o risco de uma contaminação cruzada durante a preparação dos alimentos no mesmo ambiente.
"Eu expliquei que ela não poderia ser alimentada com nada que tivesse glúten, como está no diagnóstico dela, por ela ser celíaca, e nem ter contaminação cruzada", disse a mãe.
A escola oferece cardápio específico para celíacos, conforme determina a legislação, mas de acordo com Tayrine, exames médicos da filha demonstraram a possibilidade de contaminação cruzada, o que pode acontecer quando os alimentos sem glúten são manipulados na mesma cozinha ou usando os mesmos utensílios que os demais.
"Com os exames e o laudo médico dela dizendo que ela tinha que ser alimentada somente por mim, pra não haver contaminação cruzada, a escola de início se negou, não queria e eu bati o pé, falei que não ia mais deixar ela continuar com a saúde instável. Aí foi me passado que: 'você pode levar o alimento, mas tem que seguir rigorosamente o cardápio'. Acaba sendo um absurdo eu poder ter a escolha de colocar na marmita dela o que eu tenho, naquele momento, em casa", falou Tayrine.
Em setembro de 2024, o Conselho de Alimentação Escolar de Araucária acionou o Ministério Público do Paraná (MP-PR) para mediar um acordo com a Tayrine. O argumento é que a mãe não enviava a alimentação conforme o cardápio da escola.
A promotoria determinou que houvesse diálogo entre as partes para o bem da criança.
Após a mediação com o MP-PR, ainda em 2024, foi aprovada uma lei municipal que garante o direito de estudantes celíacos levarem os próprios alimentos para as escolas públicas e privadas de Araucária. Contudo, os alimentos devem ser, preferencialmente, similares aos oferecidos pelas instituições de ensino.
A secretária de comunicação social do município, Giovanna Dalla Corte, falou que para os alunos que são veganos, celíacos, vegetarianos ou com outras condições alimentarem, há 46 cardápios diferentes para atender a todos.
"Existe uma lei municipal do ano passado em que, sim, dá respaldo às mães de celíacos onde elas podem trazer a comida, desde que esta comida seja semelhante ao cardápio oferecido. Porque estamos trabalhando com uma rede municipal e todas as crianças têm o mesmo direito", completou.
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O advogado que representa Tayrine, Daniel Kaefer, critica a postura da educação municipal em uma reunião com a mãe após o episódio do caso do bolo de cenoura.
"Três servidores em posição de gerência, de administração, de liderança de uma pasta muito importante, da Educação, irresignados com a mãe, que é extremamente diligente e atuante... Quando a mãe demonstra que há uma falha no procedimento de atuação do Estado, os servidores, ao invés de acolher, incluir e proteger essa mãe, ao invés disso [...] a gente vê esses servidores utilizando a máquina pública para oprimir uma mãe, silenciar uma mãe", afirma o advogado.
A secretária de comunicação de Araucária nega as acusações. Ela falou que a reunião foi realizada para entrarem em um consenso para que a lei seja cumprida, pois Tayrine não estaria cumprido a determinação.
Em uma publicação nas redes sociais, a Prefeitura de Araucária pede desculpas a Tayrine, à filha dela e a demais mães de celíacos e afirma que, após o mal entendido, irá criar um canal direto de escuta para famílias com restrições alimentares, revisar protocolos para lidar com alimentos levados de casa e ampliar campanhas de conscientização e valorização da diversidade alimentar.
Mãe de criança celíaca entra em embate com escola
RPC
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