A irmã da paciente destacou que, por mais que as alunas não tenham exposto o nome e endereço da irmã, elas deram detalhes muito específicos. A família da paciente prestou queixa à polícia e acionou o MP. Mãe de jovem que passou por três transplantes de coração desabafa sobre post de estudantes
Em entrevista ao programa Encontro com Patrícia Poeta, Claudia Chaves, mãe de Vitória Chaves da Silva, falou sobre o vídeo feito por duas estudantes de medicina em que elas ironizaram a história da filha (veja acima). A jovem, que morava em Goiás, morreu com apenas 26 anos após três transplantes de coração e um de rim.
"A minha filha era uma menina que tinha sede de vida. Ela lutou 26 anos, e vieram duas alunas que não conheciam, não se aprofundaram no caso, e vieram expor a minha filha desse jeito", lamentou.
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Em nota, as estudantes declararam que o vídeo em questão tinha o único intuito de demonstrar surpresa diante do caso raro mencionado durante o estágio e que também não sabiam quem era a paciente (veja a nota completa ao final do texto).
Giovanna Chaves, irmã de Vitória, também destacou que, por mais que as alunas não tenham exposto o nome e endereço da irmã, elas deram detalhes muito específicos sobre o caso de Vitória.
"Não é um caso que você encontra em qualquer lugar", afirmou.
Vídeo e similaridades
Alunas de Medicina são denunciadas por expor caso de jovem transplantada em SP
O vídeo foi postado no dia 17 de fevereiro, nove dias antes da jovem morrer. Nele, as estudantes de medicina Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano falam sobre um caso de uma pasciente que passou por três transplantes de coração feitos no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo (veja acima).
"A primeira vez que ela transplantou, ela ainda era uma criança", diz Thaís no vídeo.
Segundo a família, Vitória passou pelo primeiro transplante quando tinha apenas 7 anos de idade.
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Em outro ponto do vídeo, Gabrielli afirmou que, na segunda vez que a pacienta fez o transplante de coração, ela não tomou os remédios que precisava e, por isso, o corpo teria rejeitado o órgão.
"Teve que transplantar de novo por um erro dela", diz Gabrielli.
O segundo transplante de Vitória foi acompanhado pelo Profissão Repórter, em 2016, quando Vitória tinha 18 anos. Após cinco, o quadro voltou para ver como Vitória estava, na época com 23 anos.
"Logo após o retransplante eu fiquei muito bem, só que agora eu estou passando mal novamente, meu exame mostrou que meu coração já está 50% comprometido novamente, porque a durabilidade de um transplantado é de 10 a 15 anos, aí eu já estou com 5 anos, então agora é Deus que guarda", afirmou Vitória em entrevista ao repórter Pedro Borges.
No vídeo, Gabrielli também afirma que a paciente teria transplantado novamente pela 3ª vez, mas o rim não teria aceitado as medicações e foi preciso transplantar o órgão, que também não estaria sendo bem aceito pelo corpo.
Vitória passou por um transplante de rim após seu terceiro transplante de coração. Nas redes sociais da jovem, ela havia destacado: "3 transplantes cardíacos. 1 renal, na espera internada há 2 anos na UTI do Incor".
Denúncia
Vitória Chaves da Silva, 20 anos, foi de ambulância fazer prova do Enem
Wellington Hanna/TV Globo
Segundo apuração feita pelo g1 São Paulo, a família de Vitória prestou queixa à polícia e acionou o Ministério Público na terça-feira (8) para denunciar o caso. O vídeo das estudantes foi apagado das redes sociais, mas, segundo Giovana, ela recebeu o conteúdo por um amigo que reconheceu a história.
"Um amigo dela [da Vitória] que mora na Holanda reconheceu a história e nos enviou. Ficamos em choque quando descobrimos. As duas estudantes fizeram estágio de 30 dias na instituição [Incor]. Nem chegaram a conhecer a minha irmã. Nunca foram vê-la. Por conta dessa desinformação, as pessoas passaram a criticar minha irmã", declarou Giovana Chaves.
Em nota, as alunas declararam que o vídeo em questão tinha o único intuito de mostrar surpresa diante do caso raro mencionado durante o estágio. As alunas também afirmaram não saber de quem se tratava o caso, e que não tiveram contato com a paciente e nem com seus prontuários.
Também em nota, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) que administra o Incor, afirmou que as alunas são graduandas de outras instituições e que estavam no hospital apenas para um curso de extensão de um mês. A nota também destacou que as universidades das alunas foram notificadas para que possam "tomar as providências cabíveis" (veja as notas completas abaixo).
Nota das estudantes
"Diante da repercussão gerada por um vídeo publicado em ambiente pessoal, nós, estudantes de Medicina mencionadas em recentes reportagens, vimos a público prestar alguns esclarecimentos, com respeito, empatia e responsabilidade.
O conteúdo divulgado teve como única intenção expressar surpresa diante de um caso clínico mencionado no ambiente de estágio.
A situação descrita, por sua raridade, despertou nossa curiosidade acadêmica e levou a uma reflexão espontânea sobre aspectos técnicos que jamais havíamos estudado ou presenciado.
É importante esclarecer que não tivemos contato com a paciente, não acessamos seu prontuário, não citamos seu nome, não capturamos nem divulgamos qualquer imagem, ou seja, não sabíamos sequer quem era. Também não temos como afirmar se as fotos que passaram a circular nas redes sociais são, de fato, da paciente mencionada nas matérias jornalísticas.
Lamentamos profundamente que o vídeo — gravado sem qualquer informação que possibilitasse identificação — tenha sido interpretado de forma diversa da nossa real intenção, vinculando-o a uma determinada pessoa.
Reafirmamos que não houve qualquer deboche ou insensibilidade. Nosso compromisso com a vida, a dignidade humana e os princípios éticos da Medicina permanece inabalável.
Lamentamos também que, por razões alheias à nossa intenção, alguns segmentos tenham divulgado trechos isolados do vídeo, fora de contexto, o que contribuiu para distorções na interpretação do conteúdo.
Manifestamos nossa solidariedade à família da paciente mencionada nas reportagens, a quem respeitamos sinceramente, e reiteramos que jamais tivemos a intenção de ofender, expor ou causar sofrimento. Estamos tomando as providências cabíveis para esclarecer os fatos e preservar nossa integridade pessoal, acadêmica e emocional.
Agradecemos às pessoas que têm nos escutado com respeito e compreensão neste momento difícil, que tem sido também de profundo aprendizado".
Nota da FMUSP
"A FMUSP esclarece que as alunas envolvidas na ocorrência são graduandas de outras instituições, que estavam no hospital em função de um curso de extensão de curta duração (um mês). Atualmente, não possuem qualquer vínculo acadêmico com a FMUSP ou com o InCor.
Assim que foi tomado conhecimento do fato, as universidades de origem das estudantes foram notificadas para que possam tomar as providências cabíveis.
Internamente, a FMUSP está tomando medidas adicionais para reforçar junto aos participantes de cursos de extensão as orientações formais sobre conduta ética e uso responsável das redes sociais, além da assinatura de um termo de compromisso com os princípios de respeito aos pacientes e aos valores que regem a atuação da instituição.
A FMUSP repudia com veemência qualquer forma de desrespeito a pacientes e reafirma o compromisso inegociável com a ética, a dignidade humana e os valores que norteiam a boa prática médica.
A instituição reforça ainda a missão de formar profissionais comprometidos com a excelência e com o cuidado humano, valores que são inegociáveis em nossa Instituição."
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