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'Não se paga o mesmo preço durante a Copa como em um dia comum', diz gerente de Hotel Nota 10, que mudou nome para Hotel COP 30 em Belém


Hotel gera polêmica ao mudar fachada e cobrar cerca de 9.000% a mais no valor da diária

Divulgação

O fenômeno da alta nos preços de hospedagens para o período da COP 30, em Belém, tem gerado debate entre organizadores do evento e a sociedade civil. Em alguns casos, o aumento percentual chega a 9.000% em comparação com períodos comuns do ano.

Um estabelecimento localizado na capital paraense que, em 2023, operava com o nome Hotel Nota 10, oferecia diárias a R$ 70. Com o nome alterado para Hotel COP 30, o mesmo local aparece na plataforma Booking.com com diárias de até R$ 6,3 mil durante os dias do evento.

“Você não paga o mesmo preço por uma Coca-Cola no estádio durante uma Copa do Mundo que paga numa praça em um dia comum do ano”, disse.

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A comparação viralizou nas redes sociais, com imagens do Google Street View de 2023 que mostram o antigo nome na fachada do hotel. Após as críticas, o proprietário estabelecimento, Alcides Moura, confirmou os novos preços ao g1, sob a justificativa de que esse tipo de reajuste é comum em eventos de grande porte.

Segundo Alcides, os valores seguem o padrão de alta demanda, como ocorre anualmente durante o Círio de Nazaré.

“No Círio, a diária vai de R$ 350 ou R$ 500 para até R$ 5 mil e as pessoas pagam. Neste momento da COP, todo mundo está procurando Belém. É uma forma do comerciante ganhar dinheiro”, explica.

O empresário também explicou que o imóvel foi adquirido em agosto de 2024, quando ainda funcionava como motel. Desde então, passou por reformas que teriam custado cerca de R$ 300 mil para transformar os 17 quartos em uma hospedagem comercial. A mudança de nome para "Hotel COP" foi pensada como estratégia de marketing, segundo ele.

“Surgiu a ideia de mudar para Hotel COP porque achamos que ajudaria os clientes a nos encontrar”, disse.

A plataforma Booking.com mostra a diferença nos preços das diárias conforme o período do mês

Booking.bom

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Oportunidade ou golpe?

O aumento da procura por hospedagem também abriu espaço para práticas abusivas, improvisos e até golpes, segundo especialistas. A corretora de imóveis Andréa Martins, com 17 anos de atuação no mercado paraense, vê o atual cenário com preocupação.

“Tem muita gente achando que vai ficar rica com a COP, mas sem estrutura nenhuma para receber hóspedes. Já há anúncios com fotos falsas, imóveis que nem existem ou retirados de outras cidades”, alerta.

Ela reforça que, mesmo em plataformas conhecidas, o risco de golpes ou mudanças no acordo são reais. Por isso, orienta algumas práticas que podem ajudar a identificar se um determinado anúncio trata-se de golpe.

✅ Verificar se o corretor é credenciado Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Creci);

✅ Solicitar documentação do imóvel e do proprietário;

✅ Fazer chamadas de vídeo para confirmar a existência do local;

✅ Exigir contrato formal, com cláusulas de cancelamento e multa;

✅ Usar o Google Maps para checar o endereço.

“Se o proprietário for sério, ele não vai se recusar a fazer um contrato. Mesmo no Airbnb, o anúncio pode ser cancelado se aparecer quem pague mais”, diz.

Existe abuso, de fato?

De acordo com a advogada Letícia do Vale Alves, especialista em Direito Tributário e Imobiliário, não existe uma legislação federal que limite os preços de hospedagens temporárias. O setor segue a lógica de mercado, baseada na lei da oferta e demanda.

“A Constituição prevê a função social da propriedade, mas o setor é regulado por fatores econômicos. Em casos específicos, o Código de Defesa do Consumidor pode ser aplicado. Além disso, o Estatuto das Cidades permite que os municípios criem regras excepcionais para situações como essa”, explica.

Apesar da possibilidade de regulação local, até o momento, não há normas específicas para conter os aumentos relacionados à COP 30.

“Porém acredito que as autoridades estejam se movimentando”, afirma a advogada.

Procon monitora

Por meio de nota, o Procon Pará informou que não recebeu denúncias formais sobre preços abusivos na rede hoteleira, mas mantém uma fiscalização ativa. O órgão já realizou ações de orientação com hotéis da capital.

Além disso, foi firmado um acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – seção Pará (ABIH/PA) para reservar quartos com valores acessíveis às delegações.

Segundo a ABIH, 500 apartamentos foram garantidos para os representantes oficiais, com diárias entre US$ 100 e US$ 300.

“O que está fora desse acordo segue a tarifa de mercado. E isso acontece em qualquer cidade que recebe um evento dessa magnitude”, disse Antonio Santiago, da ABIH/PA.

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Cidade se prepara para receber até 60 mil visitantes

Com a expectativa de receber cerca de 50 mil visitantes, Belém enfrenta o desafio de acomodar toda essa demanda a preços acessíveis.

Segundo a organização da COP, a capital e região metropolitana já contam com 53 mil leitos, somando hotéis, cruzeiros e imóveis para aluguel por temporada.

Especialistas, no entanto, alertam para possíveis impactos negativos no pós-evento.

“A COP é uma oportunidade histórica. Mas, se essa lógica de preços fora da realidade continuar, quem vai pagar o preço é a própria imagem de Belém no cenário internacional”, conclui a corretora Andréa Martins.

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