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Nova espécie de embaúba é descoberta em Manaus e reforça importância de conservar fragmentos florestais urbanos


Batizada de Cecropia manauara, árvore é a décima do gênero identificada na Amazônia Central e destaca potencial ainda pouco explorado da flora urbana. Para confirmar a nova espécie, cientistas analisaram amostras de outras imbaúbas para identificar diferenças e realizaram análise genética

Daniel Praia Portela de Aguiar

Uma nova espécie de árvore do gênero Cecropia, popularmente conhecidas como embaúbas ou imbaubeiras, foi identificada em Manaus (AM) e descrita na revista Acta Botanica Brasilica. Batizada de Cecropia manauara, é a décima representante do gênero registrada na Amazônia Central e reforça a importância de preservar os fragmentos florestais urbanos na região.

Publicada no final de março, a descoberta foi feita durante um levantamento conduzido por Daniel Praia Portela de Aguiar, agente técnico-engenheiro florestal do Ministério Público do Estado do Amazonas. A coleta de dados teve início em 2017, com o colega Layon Demarchi, e tinha como objetivo a produção de um livro sobre a história natural e identificação das embaúbas manauaras.

“A princípio, tínhamos em mente apenas as oito previstas para o município e uma nona que já havíamos localizado num município próximo. Porém, à medida que fomos ganhando experiência na caracterização morfológica das espécies, verificamos que certas plantas que não se encaixavam em nenhuma classificação conhecida”, conta Daniel.

Após análises em campo, amostras foram enviadas ao botânico André Gaglioti, do então Instituto de Botânica de São Paulo, que confirmou se tratar de uma espécie distinta também do ponto de vista molecular.

Para confirmação da nova espécie, as amostras de expedições em campo realizadas entre 2018 e 2021 foram comparadas com mais de 5 mil amostras de Cecropia presentes em herbários. A comparação considerou folhas, flores, frutos e até a presença de pequenos pelos, além do sequenciamento de DNA.

Última espécie de embaúba foi descrita em 2002

Daniel Praia Portela de Aguiar

Desafios na conservação

Com porte entre 10 e 20 metros de altura, a Cecropia manauara possui folhas grandes, de até 55 cm de largura, divididas em oito ou nove segmentos. Embora cada característica isolada esteja presente em outras espécies, a combinação dessas formas torna a planta única.

A nova embaúba aparenta preferir áreas moderadamente alteradas, próximas a fragmentos de floresta, e possui densidade populacional mais baixa em comparação com espécies mais comuns, como a C. membranacea. Por isso, foi classificada como Vulnerável (VU) pela equipe, que seguiu critérios da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN).

Planta foi foi identificada em Manaus (AM)

Daniel Praia Portela de Aguiar

“A perda de fragmentos florestais urbanos e de conectividade entre eles apresenta um risco ao processo de estabelecimento e dispersão dessa nova espécie, principalmente porque não conhecemos quase nada da sua ecologia. Nesse sentido, ela pode ser considerada vulnerável, uma vez que pode ter uma distribuição geográfica limitada, aliada à aparente baixa densidade populacional”, explica o especialista.

Parceria com formigas e possível uso medicinal

Assim como a maioria das embaúbas, a nova espécie mantém uma relação mutualística com formigas do gênero Azteca, em um sistema conhecido como mutualismo Azteca-Cecropia. As formigas perfuram partes específicas do caule para se abrigar, se reproduzem dentro da planta e, em troca, a defendem de herbívoros e competidores. Além disso, seus dejetos fornecem nutrientes para a árvore.

Apesar de não haver registros específicos do uso da C. manauara por comunidades locais, outras espécies do gênero são amplamente utilizadas na medicina tradicional, principalmente como diuréticos. Em Manaus, o uso mais comum das embaúbas é na forma de chá feito com as folhas.

“As embaúbas, de modo geral, possuem uma diversidade impressionante de usos medicinais, que vão desde o tratamento de ferimentos, passando por uso diurético até usos mais complexos, como hipotensor e antidepressivo. Muitos desses usos populares têm tido sua eficácia comprovada mediante ensaios laboratoriais publicados em artigos científicos”.

Planta possui folhas grandes, chegando a 55 centímetros de largura

Daniel Praia Portela de Aguiar

Mais espécies por vir

Além da Cecropia manauara, outras duas novas espécies foram confirmadas pelos pesquisadores e devem ser descritas em breve. Uma quarta ainda está sob investigação. “Manaus surge como um improvável hotspot para o gênero Cecropia e acreditamos que a publicação dessas espécies e do livro que estamos finalizando vai despertar o interesse de outros pesquisadores”, destaca o botânico.

A última espécie de embaúba havia sido descrita em 2002, nos Andes peruanos. Duas décadas depois, a redescoberta da diversidade do gênero em uma área urbana como Manaus mostra que ainda há muito por conhecer e conservar na biodiversidade amazônica.

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