Novas imagens sem cortes mostram ação de PM da Rota que matou investigador da Polícia Civi
Novas imagens da câmera corporal de um policial militar da Rota revelam detalhes da ação que terminou com a morte do investigador da Polícia Civil Rafael Moura da Silva, na favela do Fogaréu, Zona Sul de São Paulo.
No domingo, o Fantástico mostrou o vídeo do disparo do PM contra o policial civil.
Pelas novas imagens, é possível ver o sargento Marcos Augusto Costa Mendes, da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), por volta das 17h42 do dia 11 de julho. No vídeo, ele aparece correndo em direção a um portão preto. Ele abre o portão com uma chave e continua correndo dentro da comunidade. Pouco depois, ocorrem os disparos que atingiram o investigador. Ele se identifica como "polícia", mas o sargento segue atirando.
De acordo com a defesa da família de Rafael, o policial civil chegou a gritar que era polícia antes de ser baleado. Após os primeiros tiros, é possível ouvir gritos dos colegas da vítima: “É polícia! É polícia!”.
Em entrevista, o advogado criminalista Marcus Vinicius, que representa a família do investigador, afirmou que as imagens mostram que o sargento da Rota agiu de forma incorreta.
“Analisando as imagens, é possível ouvir as verbalizações do Rafael após os dois primeiros disparos, deixando claro que era policial. Mesmo assim, houve mais dois tiros. A defesa entende que a ação foi irregular”, afirmou.
Outro ponto levantado pela defesa é o fato de o policial da Rota ter encontrado uma chave no escadão e saber exatamente onde ela poderia ser usada. No termo de declaração anexado ao processo, Marcos disse que a equipe encontrou uma chave jogada no chão e deduziu que ela poderia abrir um portão de ferro que barricava a entrada de um beco usado como ponto de tráfico de drogas.
"Chamou a atenção, pois no termo de declarações, ele disse que ele encontrou essa chave no escadão e ingressou na porta da comunidade após ver um vulto. E aí sim, ele saiu correndo. Mas ao observar as imagens, a gente percebe que ele sai do escadão, acessa a rua e já vai correndo em direção ao portão. Em nenhum momento ele deixa de correr. Ele está sempre correndo. Ele só para quando ele faz o acesso para abrir esse portão e aí continua correndo dentro da comunidade", diz.
Trecho do bo em que o PM fala sobre ter encontrado a chave que coube no portão
Reprodução
Já a defesa do sargento Marcos afirma que ele agiu de acordo com os procedimentos.
“O vídeo mostra claramente que os disparos foram feitos antes de qualquer verbalização indicando que havia outro policial no local. Além disso, o distintivo do investigador não estava visível — foi encontrado dentro da camiseta, nas costas dele, quando já recebia os primeiros socorros”, argumentou o advogado de defesa.
A operação da Rota ocorreu no mesmo local onde agentes da Polícia Civil investigavam suspeitos de um latrocínio. A troca de informações não teria sido feita, segundo as defesas.
Rafael Moura da Silva foi atingido por três tiros — dois deles no tórax — e chegou a ser levado ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu e morreu na última quarta-feira (16), após cinco dias internado.
A câmera corporal também registrou o momento em que os policiais da Rota percebem o engano, chamam o resgate e tentam socorrer o investigador, enquanto colegas dele se desesperam no local.
"Matou meu parceiro, vai tomar no c..., comédia", disse um dos policiais civis.
Além de Marcos Augusto Costa Mendes, a Justiça de São Paulo determinou o afastamento cautelar de outro policial da Rota, Robson Santos Barreto. Embora ele não tenha participado diretamente dos disparos, estava com Marcos em outra operação, no mês anterior, perto da mesma comunidade, onde um homem ainda não identificado morreu.
A Corregedoria da Polícia Militar investiga o caso.
O que diz a SSP
"A Secretaria da Segurança Pública lamenta profundamente a morte do policial civil Rafael Moura da Silva e reafirma seu compromisso com a rigorosa apuração dos fatos, sob a responsabilidade do 37º Distrito Policial (Campo Belo). O policial está afastado das atividades operacionais. As imagens captadas pelas câmeras corporais dos policiais estão disponíveis para a Polícia Civil, Ministério Público e Poder Judiciário. O distintivo do policial foi encaminhado para a perícia."
O que diz o MP
"O MPSP informa que o promotor responsável pelo caso se manifestou a favor do afastamento. "Nessa ordem de ideias, o Ministério Público manifesta-se favoravelmente ao pedido de afastamento cautelar dos policiais militares Marcus Augusto Costa Mendes e Robson Santos Barreto, pelo prazo inicial de 90 (noventa) dias, nos termos do artigo 319, inciso VI, do Código de Processo Penal, solicitando-se, ainda, imediata comunicação à respectiva Corregedoria", diz o promotor.
Defesa do PM
A defesa do policial militar da Rota afirmou que o agente agiu dentro do "procedimento operacional padrão" e que não "identificou falhas de protocolo".
A ação
A operação foi registrada pela câmera corporal do próprio agente da Rota. Ele levou 16 segundos até encontrar o investigador da Polícia Civil. Então, ouvem-se tiros.
Rafael foi atingido por três tiros, dois deles no tórax. Ele foi levado para o Hospital das Clínicas, também em São Paulo, mas morreu na última quarta-feira (16), após cinco dias internado.
Quem era policial civil morto por engano por PM da Rota em operação em SP
As equipes da Rota e da Polícia Civil atuavam no mesmo local sem saber da presença uma da outra, em busca de suspeitos de um caso de latrocínio.
Um outro policial civil, Marcos Santos de Sousa, também foi ferido de raspão na ação.
A família de Rafael cobrava a divulgação das imagens da câmera corporal. "Ele sempre falava comigo, sempre fazia chamada de vídeo para mostrar que tava bem. Mas, naquele dia, ele não me atendeu", diz Kátia Santos Dias, esposa de Rafael.
O que a família — e os colegas de Rafael — afirmam é que o PM Marcus Augusto não teria avisado antes de atirar, nem feito qualquer tipo de alerta.
Neste domingo (20), a defesa dos policiais da Rota procurou o Fantástico para divulgar um trecho de pouco mais de três minutos feita pela câmera corporal. A defesa de Marcus Augusto diz que Rafael estava à paisana e que o PM agiu em legítima defesa numa situação entendida como ameaça.
"[Para] O policial militar que está na rua, que combate a criminalidade, é normal ele se envolver em ocorrência com morte. Principalmente o policial atuante, que combate a criminalidade em áreas periféricas", disse o advogado do sargento Marcus Augusto, Fabio Galves.
No entanto, imagens de um vídeo gravado pelo policial civil Marcos, antes da ação, mostram que o distintivo de Rafael estava visível.
Na sequência dos disparos, a câmera corporal permite acompanhar os policiais da Rota chamando o resgate quando percebem o engano. É possível ver os policiais da Rota fazendo o primeiro atendimento médico a Rafael.
A Justiça de São Paulo decretou o afastamento cautelar de Marcus Augusto e de outro policial da Rota, Robson Santos Barreto. Embora ele não tenha atirado, ele estava junto de Marcus Augusto um mês antes, em outra ocorrência a 500 metros do local onde Rafael foi atingido. Um homem não identificado morreu nesse episódio anterior.
O Fantástico pediu um posicionamento à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
"Exigir uma comunicação por parte da Polícia Civil, num caso como esse, não me parece razoável. Assim como a incursão dos policiais militares se deu diante de uma suspeita inicialmente que estamos investigando para verificar todo o contexto", afirmou Emerson Massera, chefe de comunicação da Polícia Militar de SP.
Imagens mostram a ação em que sargento da Rota disparou contra policial civil ao confundi-lo com possível criminoso
Fantástico/Reprodução
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