G1

Pai solo usa cartas aos filhos para lidar com perda da esposa: ‘ponto de partida para conversas difíceis’


Pai solo encontra força na escrita após perda de esposa

Um empresário de Campinas (SP) encontrou na escrita de cartas para os filhos um caminho para lidar com a perda da esposa, que foi vítima de um câncer. Hoje, Rafael Muniz Stein tem livros publicados e ministra palestras sobre luto e paternidade solo.

Antes da perda, em pequenos intervalos de anos, Rafael realizou sonhos e ganhou três novos amores. Se casou com Micaela e se tornou pai de Maria e Francisco.

“Fui morar no mesmo prédio que ela, a gente se conheceu ali e começamos a namorar. Depois de três anos, a gente casou e, um ano depois, a gente teve a Maria. Depois de quatro anos, veio o Francisco", recorda.

Participe do canal do g1 Campinas no Whatsapp 📲

Quando tudo parecia perfeito, veio a notícia: em 2016, Micaela teve um diagnóstico de câncer de mama.

“Eu acho que esse momento é um divisor na nossa relação e no meu exercício da paternidade”, conta o empresário.

A doença mudou a rotina de vida. A possibilidade de assumir a responsabilidade afetiva dos filhos trouxe insegurança. "Eu tava morrendo de medo, mas me afastava para chorar. Nunca na frente dela", relembra.

Micaela e os filhos Maria e Francisco

Reprodução/ EPTV

Quatro a seis meses de vida

A doença mudou a forma de enxergar a vida e a relação entre casal e as crianças.

"Você começava uma medicação, ele [tumor] tinha uma mutação e aí ele ficava resistente. [...] E aí eu fui meio prático: 'se continuar a progressão do jeito que tá, quanto tempo a gente tem?'. Ela [médica] falou: 'quatro a seis meses'. Então, ali foi o baque, que eu falei assim: 'Minha esposa vai morrer'”, revela.

As primeiras cartas

Ele conta que uma enfermeira que cuidava de sua esposa deu uma ideia: “chegou a hora de escrever cartas, pedir para Mi escrever cartas para Maria, porque a Maria vai virar mocinha um dia e a mãe não vai estar aqui".

Família reunida durante o tratamento de Micaela

Reprodução/ EPTV

Uma das primeiras cartas escreveu enquanto a filha estava na escola.

"Esperando a Maria [na escola], eu escrevo um primeiro texto no celular mesmo, enquanto o sinal não bate, que era falando ali para Maria que estava observando ela ali no pátio da escola".

Em um dos trechos, Rafael escreveu:

"Cheguei mais cedo e fiquei observando você sair do parquinho e caminhar até a sala. O papai está triste hoje, tenho pensado muito na vida e o que fazer dela. Estou com medo de não dar conta".

"A primeira vez que eu falo o que eu tava sentindo, eu escrevo. E aí eu levo esse texto para a Micaela corrigir. Então, a partir dali, a escrita foi um ponto de partida pra gente começar a ter as conversas difíceis e que a gente evita”, explica o empresário.

Cartas foram saída para lidar com conversas mais difíceis, diz Rafael

Vaner Santos/ EPTV

A partida

Foram quase dois anos de tratamento até a partida de Micaela.

“Por mais que a gente tenha o prognóstico, a gente não se prepara. Então, o baque foi quando ela faleceu, eu volto para casa sozinho, e aí eu tenho que contar para os meus filhos que a mãe tinha falecido”, lembra.

Recomeço

O tempo passou e Rafael ainda guarda com carinho as lembranças e a força que Micaela deixou como exemplo.

Já escreveu livros sobre as cartas que fez para a filha junto com a esposa e realiza as palestras sobre o luto e paternidade solo.

"Eu mudei minha vida toda para poder estar próximo deles. Hoje, é muito mais leve do que um dia foi. O diagnóstico e o que a gente viveu e tudo que aconteceu mudou a nossa vida”, afirma.

“Eu gosto muito mais do Rafael hoje do que e o Rafael de antes. O sentimento que eu tenho é que eu acho que ela merecia esse outro Rafael, sabe? Eu queria muito que ela visse isso de alguma forma".

VÍDEO: tudo sobre Campinas e região

Veja mais notícias sobre a região na página do g1 Campinas

Baixe o nosso aplicativo

Tenha nossa rádio na palma de sua mão hoje mesmo.