Desde 2024, menos de 10% dos acordos prometidos pelos governos federal e estadual foram firmados. Segundo TRF, menos de 10% das indenizações para moradores de prédios-caixão foram acordadas
Quase 12 mil famílias em Pernambuco ainda aguardam acordos de indenização para prédios-caixão com risco elevado de desabamento. Em junho de 2024, o governo de Pernambuco divulgou uma lista com 431 edificações com alto risco de desabamento no Grande Recife cujos proprietários deveriam ser indenizados (veja vídeo acima).
Desde então, menos de 10% dos acordos foram firmados, segundo o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5). O edifício Kátia Melo, que desabou em Jaboatão dos Guararapes na terça-feira (6), não estava nessa lista.
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À época do acordo inicial, a Caixa Econômica Federal se dispôs a indenizar em até 120 mil reais os donos de apartamento em 431 prédios-caixão com risco elevado de cair. O plano era beneficiar cerca de 13 mil famílias entre 2024 e 2025, mas, até o mês de abril deste ano, apenas 1.043 acordos foram firmados, segundo o TRF.
Esse tipo de construção em formato de caixa se popularizou por conta do baixo custo e da agilidade da obra. Os prédios-caixão foram erguidos a partir de 1970 e começaram a apresentar problemas nos anos de 1990. Em 2025 faz 20 anos que este tipo de construção foi proibido em Pernambuco. De lá para cá, pelo menos 20 desabaram.
O engenheiro Carlos Wellington Pires liderou um estudo feito pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP) nos anos 2000, que identificou 5.300 prédios-caixão no Grande Recife.
A maioria apresentava riscos entre leves e graves. Segundo Carlos Wellington, o edifício Kátia Melo, em Jaboatão, ficou de fora do estudo na época porque os moradores não permitiram que o prédio fosse “caracterizado”, a primeira etapa do mapeamento.
"O Ministério Público exigiu das prefeituras um estudo nos moldes que o ITEP propôs, que era a caracterização, o laudo e o projeto de reforço. [...] Infelizmente esse prédio não permitiu a caracterização, o primeiro passo para hierarquizar o problema. Teria que fazer o laudo, mas não foi feito", afirmou Carlos Wellington, em entrevista à TV Globo.
Problema de difícil solução
Apesar da proposta de indenização da Caixa, o plano sozinho não resolve o problema dos prédios-caixão, entre outros motivos porque muitas edificações com risco de desabar ficaram fora do mapeamento, como o edifício Kátia Melo.
Para o engenheiro civil Carlos Wellington Pires, recuperar os prédios é mais barato do que demolir.
"A gente tem um custo médio em torno de R$ 30 mil a R$ 35 mil por apartamento e para cada edifício desse, só para demolir, você gasta R$ 250 mil. Então, se um prédio tem 20 apartamentos, você teria R$ 600 mil. Vamos supor, [...] com a sua habitabilidade, seu lar, e você não cria mais problemas de déficit habitacional", ponderou Carlos Wellington.
O conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE) Luiz Fernando Bernhoeft também pontuou que o estudo do Itep foi feito há mais de 10 anos e muitos prédios-caixão podem ter agora um risco ainda mais alto de desabar e não estarem contemplados no plano de indenização da Caixa.
Para Luiz Fernando, o custo-benefício da recuperação da estrutura dos prédios pode não ser viável para muitos moradores, por isso destaca o aspecto social do problema.
"Eles não têm dinheiro para fazer. São vítimas porque ofereceram o sonho da casa própria. [...] Deveria existir uma forma de tentar solucionar, seja o Minha Casa, Minha Vida, subsídio de R$ 17 mil, R$ 20 mil e parcelar o resto a perder de vista, porque eles não vão ter condições de fazer esse reforço", defendeu Luiz Fernando Bernhoeft.
Procurado pela TV Globo, o governo de Pernambuco informou que os 431 prédios a serem contemplados pelas indenizações foram definidos pelos municípios e que, após as demolições, os terrenos serão destinados a programas habitacionais.
Prédio do tipo caixão interditado por risco de desabar no bairro de Jardim Atlântico, em Olinda, no Grande Recife (arquivo).
Reprodução/TV Globo
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