Rock atravessa gerações em novas maneiras
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🤘A batida de bateria, o som grave do baixo, as cordas ferozes da guitarra e a potência disruptiva do vocal ao microfone. O rock é um gênero musical que foge da quietude e mergulha no excêntrico, seja com uma estética subversiva ou com composições questionadoras, mas que soam tão atuais.
Em Alagoas, o gênero é um fenômeno que atravessa o som de geração a geração, se reinventando a cada passagem de tempo. As bandas contemporâneas no estado dialogam com os clássicos e fazem do cenário atual um mix de reciclagem e criação.
O g1 revisitou gerações através de um bate-papo com bandas que se destacam no cenário da música alagoana. Das mais clássicas às contemporâneas.
Começando com os Morcegos, que está no movimento musical há 40 anos, passando por um grupo que celebra o clássico e se inspira através de elementos novos, como a Média 6. E falando sobre a contemporaneidade, o Quarto Vazio reverbera o rock com uma nova roupagem sem perder a identidade do gênero musical.
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👨🎤 Rock alagoano: geração a geração
Frankstone relembra histórias do movimento em Alagoas
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Nas paredes dos bares e pubs de Alagoas moram histórias eletrizantes sobre grupos que marcaram as gerações de muitos roqueiros alagoanos. O gênero no estado passou por composições que desafiavam as regras da época.
Frankstone, guitarrista da banda de Metal Extremo Morcegos, banda alagoana que está no cenário musical desde a década de 1980, fala sobre como a voz ativa do rock contribuía para criticar e discutir sobre o período da ditadura militar.
“A gente seguia um estilo de som pesado. Para muitos cidadãos da sociedade alagoana, aquilo era um som ‘barulhento’. Nós fazíamos letras que falavam sobre a liberdade após um momento cruel de quase vinte anos de ditadura militar. O roqueiro era a imagem aversa da sociedade com o objetivo de questionar porque não pode ser daquele jeito e nós fazíamos esse questionamento”, diz o artista.
Em meio a era dos streamings, pouco se fala da forma de compartilhamento de bandas de rock consolidadas no estado. A forma mais comum de divulgação de trabalho era através da gravação de discos de vinil, artefato de consumo popular que, atualmente, se tornou item colecionável para amantes de músicas.
"Para você ter uma ideia, eu recebia uma faixa de 300 cartas por semana, haja caneta, envelope e papel para estar respondendo. A gente usava o selo social que era um centavo e fazíamos uns trambiques de reutilizar para não pagarmos porque eram muitos correspondentes, isso ia aumentando e levava tempo", disse.
Mas nem todos os artistas possuíam condições para custear a compra de vinis e o aluguel de estúdios de gravação, criando a sua demotape (material feito para apresentar ideias musicais do grupo que a produziu). Por isso, diversas bandas utilizavam o sistema de entrega de cartas como meio de divulgação de seus trabalhos mais recentes.
Essas entregas eram feitas através de correspondentes que divulgavam para outras pessoas que repassavam para diversas regiões, popularizando bandas em todos os cantos do país.
Frankstone ressaltou que muitos shows eram marcados através dessas cartas, em que muitos produtores de shows os contactavam para fazer eventos em outros estados do Brasil.
Banda Quarto Vazio
Lu Melo/g1 AL
Ao longo dos anos, o rock continuou sendo o gênero que simbolizava a juventude de diversas gerações, como um meio artístico e livre para expressar críticas sociais sobre o governo, desigualdade e preconceitos ainda enraizados na sociedade. Porém, outros movimentos ganham força a partir dos anos 2000 até a atualidade.
Para Renner, baterista da Quarto Vazio, banda que se consolidou com o público jovem de Alagoas, o rock ainda continua sendo uma voz presente para a nova geração, mas há movimentos de outros gêneros musicais que reverberam os mesmos assuntos em visões e proximidade diferentes, como o hip-hop.
“O rock já teve uma voz mais presente para os jovens por ser uma música de rebelia, ser jovem era ser do movimento rock. Atualmente, vejo o hip-hop sendo a voz presente do que a juventude clama, mas isso não significa que o rock deixou de ser uma forma da juventude se expressar, principalmente em Maceió”, falou.
Renner ainda ressalta que Maceió, em comparação a outros estados do Nordeste, vem se consolidando com uma nova roupagem musical e estética mais independente.
Mercado do rock em Alagoas
Media 6
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A vida de um artista independente não é fácil, desde a produção de uma música autoral até manter-se financeiramente da arte. Construir um trabalho artístico é uma tarefa difícil que muitos encaram na cara e na coragem.
Em Alagoas, o mercado do rock surge através de eventos promovidos por casas de shows, bares e pubs. Mas, segundo Wyderlan Araújo, vocalista da banda de pop rock Média 6, a rotatividade de bandas novas fica cada vez menor e o cenário é cada vez mais preocupante.
“O mercado do rock fica cada vez mais restrito aqui em Maceió. Existe um escalonamento para bandas cobiçadas, mas bandas emergentes possuem poucos espaços nesses locais na capital e interior, talvez com medo de uma movimentação baixa ou até por uma questão mesmo de não conhecer a banda. O ciclo não se renova e é por isso que talvez o perfil de consumo desse público do rock seja um perfil de consumo cada vez menor”, conta.
Na capital, existem diversas bandas covers de artistas clássicos nacionais e internacionais. O ato de cantar uma música de outro grupo musical é tradicional da cena do rock, mas abre debates para a valorização de composições autorais no mercado.
Para Nycolas Coruripe, guitarrista da Quarto Vazio e músico na noite alagoana, a presença de músicas autorais no repertório aproxima a banda do público.
“O público tem uma afinidade maior com músicas autorais, porque desprende-se do fator nostalgia, você se identifica com aquela música que é totalmente nova e aí você acaba virando fã daquilo, acaba se conectando. Então, apesar das dificuldades cena autoral está ganhando cada vez mais força devido que as pessoas estão se identificando com coisas novas e originais, com aquela sonoridade”, destaca.
Em meio a um cenário que pouco valoriza o roqueiro, muitos instrumentistas e cantores se debruçam em outros gêneros como forró para atrair o público da região. Entre os motivos, o dinheiro é um dos principais obstáculos da vida do cantor independente.
Wyderlan Araújo ressalta que os maceioenses ainda possuem interesse no rock, mas houve um enfraquecimento de eventos específicos para o público ouvinte do gênero e a falta de incentivo no nascimento de novas bandas.
Do Elvis aos rebites: a estética transformadora do rock
O rock é um gênero bastante característico e familiar, e como um movimento musical, a moda também passou pelos acordes da guitarra durantes as décadas.
Nos anos 1950, o rockabilly se tornou o primeiro estilo em que consumidores do rock utilizavam. Estampas com caveiras, topetes, jaquetas tweed, tatuagens e bandanas eram símbolo de rebeldia da juventude. No vestiário feminino, vestidos plissados com saias rodadas marcaram a geração.
Elvis Presley filme O Prisioneiro do Rock
Reprodução
Todos os elementos soam familiar para você? Não é engano! Afinal, Elvis Presley e Johnny Cash foram grandes referencias para a composição de roupas no guarda-roupa masculino.
Em Alagoas, Frankstone destaca como as questões sociais são essenciais e marcam o modo de compor a vestimenta do roqueiro. Para ele, o modo subversivo de pensar e agir se traduz nas indumentarias, jaquetas de couro, roupas pretas, cabelo grande e pulseiras de rebite. Elementos clássicos da moda do rock nos anos 1980.
Para o instrumentista, a estética do movimentou não passou por grandes modificações ao longo dos anos mais contemporâneos, mas a sociedade aceita mais o estilo.
Veja, nos anos 80 e até boa parte dos 90 a gente era visto como bandido, a polícia nos paravam nas ruas só pelo visual, hoje isso não acontece", fala.
Cardigã de Kurt Cobain será exibido também
Divulgação
Estilos como grunge e punk criaram os próprios ecossistemas e influenciaram passarelas, filmes e séries. Por exemplo, o longa-metragem 'Cruella' se referencia na moda punk rock para compor o indumentário da filme.
🎸 Guitarra: a melhor amiga do rock
Guitarra é símbolo do gênero
Lucas Leite/g1 AL
Quem pensa em rock já remete a um som estridente característico que muda a atmosfera das músicas do gênero: a guitarra elétrica. O instrumento é popular por sua amplificação nas cordas devido a captadores que convertem as vibrações para sinais elétricos.
Sua origem nasce da necessidade de encontrar alternativas para priorizar a percussão das cordas em bandas. O músico George Beauchump e o engenheiro elétrico Adolph Rickenbacker foram os principais idealizadores da invenção do instrumento.
Nycolas Coruripe, guitarrista da banda Quarto Vazio, destaca suas inspirações ao tocar o instrumento.
“Os elementos que aplico na minha guitarra são quase sempre do blues . Escuto bastante música da cultura negra, apesar que há uma grande diferença entre o rock e esse gênero”, disse.
Para além das influências, a guitarra se faz presente dentro de subgêneros como o psicodélico e o hard rock, seja pelo som característico que o instrumento trazia, ou seja pela criação de solos mais expressivos e únicos.
O rock alagoano se perpetua de diferentes formas ao longo dos anos. A velha guarda contribui veernentemente, através de suas músicas que, mesmo de uma época distinta, retratam narrativas ainda tão atuais para novos ouvintes, que se interessam pelo gênero disruptivo.
O ciclo de novas bandas se renova a cada período geracional, mesmo que de maneiras diferentes do rock, mas ainda continuam ressaltando a liberdade, juventude e vivências que se transformam em vibrações de cordas, batidas em tambores, sons graves e expressadas por uma voz estridente: a jovialidade.
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