Barretos, SP, calcula impacto do tarifaço na exportação de carne bovina
A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre a carne bovina brasileira, que entrou em vigor na última quarta-feira (6), já começa a gerar impactos na cadeia produtiva do setor, e reflete também na região de Ribeirão Preto (SP). A medida pode causar uma perda de até US$ 1 bilhão, segundo estimativas da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC).
Em Barretos (SP), a carne bovina está em mais de 60% de tudo o que o município exporta. Com a medida, a expectativa é de que os frigoríficos consigam redirecionar o produto para outros países que já são parceiros do Brasil.
Um confinamento na cidade voltado para exportação, que opera com 25 mil cabeças, registrou uma queda de 10% no faturamento apenas com a notícia da taxação, por conta da desvalorização do preço do boi gordo.
✅Clique aqui para seguir o canal do g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp
Segundo André Perrone Reis, diretor do confinamento, a carne brasileira é essencial para a produção de hambúrgueres nos Estados Unidos, que a utilizam para fazer um blend com a carne local.
Ele destaca que esta característica se encaixou perfeitamente no modelo de produção brasileiro, garantindo uma viabilidade muito boa.
"Isso deu uma precificação até maior do que a China, que até então era o nosso maior mercado. Estava um cenário muito bom para a gente. Temos certeza de que a indústria tem feito um trabalho interessante para a gente tentar recuperar esse mercado."
Apesar da importância do mercado americano, o setor já busca alternativas para compensar a perda.
O consultor de mercado Felipe Fabbri aponta que a saída é redirecionar a produção para outros parceiros do Brasil, como México, Rússia e Indonésia. A vantagem é que esses países já possuem certificação para a carne brasileira, o que facilita o processo.
"Em termos de volume, substituir a demanda dos Estados Unidos deve ser tranquilo. Mas em termos de faturamento e remuneração, é aqui que mora a maior dificuldade do setor."
Fabbri explica que, no contexto global, a produção de carne bovina cresceu 7,1% entre 2015 e 2024, enquanto o consumo aumentou 8,8%, o que coloca o Brasil em uma posição de destaque e grande fornecedor dentro desse segmento.
O consultor destaca a diferença de valores: o mercado norte-americano, que era o segundo maior comprador, pagava entre US$ 6 mil e US$ 7 mil por tonelada, quase US$ 1,5 mil a mais do que até então o principal comprador, que era a China.
LEIA TAMBÉM:
'Tarifaço' de Trump pode causar 'efeito chicote' no preço da carne brasileira, diz especialista
Produtores de açúcar orgânico em SP temem 'tarifaço' dos EUA: 'negociação é essencial'
Setor de automação industrial espera ganhar competitividade com isenção do ‘tarifaço’
Com vendas canceladas, empresários do interior de SP sentem efeitos do tarifaço de 50% imposto pelos EUA
Consumo interno
Outra preocupação é o impacto no mercado interno. Em um primeiro momento, entre agosto e setembro, Fabbri acredita que pode haver uma queda nos preços da carne para o consumidor, devido ao redirecionamento do produto que iria para os Estados Unidos. Contudo, essa baixa não deve se sustentar.
“Olhando para o restante do ano, não enxergamos que esses preços da carne venham mais acessíveis, porque dentro do ano há uma menor oferta de boiadas, nesse período dos últimos quatro meses, que é uma programação dentro da fazenda, aonde pecuarista acaba segurando um pouco mais as boiadas. Então tem menos oferta chegando para a indústria frigorífica. São fatores que, na nossa visão, devem limitar um pouco de um viés de baixa para a cotação tanto da arroba do boi quanto da carne ao consumidor.”
Impacto na empregabilidade
Apesar das incertezas, o setor descarta a possibilidade de demissões em massa a curto prazo. Fabbri explica que o mercado brasileiro consome de 70% a 80% de toda a carne produzida no país, o que garante a demanda por mão de obra.
"Não enxergamos o risco de demissões. A maior parte da nossa produção fica no mercado interno. As indústrias não devem cessar a geração de empregos, não deve parar a procura, enfim, não deve mudar nada com a programação daqui para frente.”
Tarifaço impacta na exportação de carne bovina na região de Ribeirão Preto, SP
Reprodução EPTV
Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca
VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região