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Ataque raro: harpia fere mulher em floresta na Guiana Francesa


Documentado por cientistas, caso evidencia comportamento incomum da espécie e reforça necessidade de estudo para criação de estratégias de manejo mais eficazes. Fotos publicadas no artigo mostram o animal que realizou o ataque

Reprodução/Ecology and Evolution

Um ataque de uma harpia (Harpia harpyja) a um ser humano registrado na Amazônia levantou dúvidas sobre o comportamento de uma das maiores e mais poderosas aves de rapina do mundo. Ocorrido em uma área de ecoturismo na Guiana Francesa, em outubro de 2023, o caso foi o primeiro a ser formalmente documentado pela comunidade científica.

A vítima, uma turista de 29 anos, caminhava com um grupo por uma trilha próxima a um acampamento ecológico quando foi surpreendida pela ave. No momento do incidente, ela ficou um pouco para trás dos demais turistas para fotografar a espécie.

A harpia, que observava o grupo de um galho a seis metros de altura, atacou a mulher pelas costas, agarrando a região do couro cabeludo. O ataque foi interrompido quando o companheiro da vítima gritou e avançou na direção do animal, que então voou para longe.

A turista foi levada ao hospital com ferimentos leves na cabeça e, apesar do susto, se recuperou bem. O comportamento da harpia foi considerado incomum, com persistência no ataque mesmo diante de barulho e movimentação humana.

Ferimentos provocados pelo ataque da harpia

Reprodução/Ecology and Evolution

O caso foi publicado neste ano na revista científica Ecology and Evolution. Segundo os autores do artigo, o ataque desafia a ideia de que gaviões-reais só demonstram agressividade em contextos de defesa de ninho ou em cativeiro.

“Não temos explicação para o comportamento desse indivíduo. Esse comportamento é incomum porque não há outros casos semelhantes, e os únicos outros casos conhecidos foram em defesa de um ninho contra um alpinista, o que não foi o caso aqui”, explica Loïc Epelboin, pesquisador e autor principal da publicação.

“Gostaríamos de enfatizar este aspecto único e anormal, e o fato de que as harpias não representam nenhum perigo para os seres humanos”, ressalta.

Animal ameaçado

Conhecida também como gavião-real, a harpia é o maior predador das copas das florestas tropicais e está criticamente ameaçado em várias regiões do Brasil, especialmente na Mata Atlântica. Costuma caçar preguiças, macacos e outros mamíferos de médio porte. Fêmeas da espécie podem chegar a 9 kg e carregar presas do mesmo peso em pleno voo.

No caso da Guiana Francesa, os cientistas acreditam que o ataque tenha sido um evento isolado - talvez motivado por estresse, por um comportamento agressivo individual ou até por um evento de caça interrompido.

Harpia é considerada criticamente ameaçado em várias regiões do Brasil

Carlos Alberto Coutinho

Apesar disso, o episódio chama atenção para o papel que grandes aves de rapina podem ter tido ao longo da evolução humana, especialmente no que diz respeito à importância da socialização dos homens como forma de defesa. No caso documentado, o fato de a mulher estar acompanhada foi essencial para que o desfecho não fosse mais grave.

O artigo também revela uma preocupação recorrente entre pesquisadores: o medo de que a divulgação de episódios como esse leve ao aumento da perseguição aos gaviões-reais, que já enfrentam graves ameaças em seu habitat natural.

“A documentação cuidadosa desse incidente contribui para uma compreensão mais ampla da ecologia comportamental da harpia e também ajuda a esclarecer mitos ou concepções equivocadas sobre sua suposta periculosidade. Acreditamos que estudos como este podem informar estratégias de manejo mais eficazes, promovendo a coexistência segura entre humanos e predadores selvagens”, afirmam os autores.

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