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Chacina em Cavalcante: sete policiais acusados de matar quatro homens são julgados em GO


Sete policiais suspeitos de chacina em Cavalcante passam pelo primeiro dia de julgamento

Após a morte de quatro homens em uma chácara em Cavalcante, na região nordeste de Goiás, sete policiais militares estão sendo julgados em Goiânia. De acordo com a denúncia do Ministério Público de Goiás (MPGO), o crime ocorreu em janeiro de 2022 e as vítimas foram executadas com 58 disparos de arma de fogo. Os réus respondiam em liberdade após decisão da Justiça.

O julgamento iniciou na terça-feira (19), às 8h30. Segundo o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), devido ao grande número de réus e testemunhas, o julgamento pode ser estendido até quinta-feira (21).

O MP denunciou os sargentos Aguimar Prado de Morais e Mivaldo José Toledo, o cabo Jean Roberto Carneiro dos Santos e os soldados Luís César Mascarenhas Rodrigues, Ítallo Vinícius Rodrigues de Almeida, Welborney Kristiano Lopes dos Santos e Eustáquio Henrique do Nascimento por homicídio qualificado e fraude processual.

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Os policiais são acusados de armar uma emboscada para matar Salviano Souza, de 63 anos, Ozanir Batista da Silva, de 47 anos, Antônio da Cunha Fernandes, de 35 anos, e Alan Pereira Soares, de 27 anos.

Ao g1, o advogado Tadeu Bastos, que representa Welborney, disse que acredita na absolvição dos acusados em virtude das provas produzidas. “Ficou muito claro que ali tinham grandes traficantes de drogas da região, armados e que dispararam contra os policiais que reagiram à injusta agressão”, pontuou.

A advogada Márcia Teixeira, responsável pela defesa de Jean Roberto, informou que "o confronto decorreu de ação policial legítima, dentro da estrita legalidade. Ressalta-se que o policial possui conduta ilibada e histórico funcional irrepreensível, já comprovados pelas testemunhas ouvidas. A defesa confia que a Justiça reconhecerá sua inocência", ressaltou.

A reportagem entrou em contato com a defesa dos outros policiais, para que pudessem se posicionar sobre o caso, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Em nota, a Polícia Militar de Goiás (PMGO) destacou que “à época dos fatos, adotou prontamente todos os procedimentos administrativos cabíveis, em conformidade com a legislação vigente”. Além disso, a corporação frisou que segue colaborando com o Poder Judiciário (leia na íntegra ao final do texto).

Mudança no julgamento

O júri popular, que inicialmente seria realizado em Cavalcante, foi transferido à Goiânia. Em entrevista à TV Anhanguera, o juiz Lourival Machado da Costa, da 2ª Vara dos Crimes Dolosos contra a Vida, contou que a decisão ocorreu para garantir a imparcialidade dos jurados após a repercussão do caso.

“Às vezes as testemunhas se sentem ameaçadas e os jurados também. A proximidade com os réus ou com as vítimas, tudo isso pode comprometer o julgamento”, explicou.

No primeiro dia do julgamento, parte das 13 testemunhas foram ouvidas. Na manhã desta quarta-feira (19), os policiais começaram a ser interrogados, informou o TJGO.

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Chacina em Cavalcante: relembre o caso

Propriedade onde ação da PM com quatro mortos aconteceu, em Cavalcante

Divulgação/Polícia Civil

O crime aconteceu no dia 20 de janeiro de 2022. Na data, a PM informou à Polícia Civil que uma equipe foi a uma propriedade rural, em local ermo e de difícil acesso, após receber uma denúncia de que ali haveria uma grande plantação de maconha. No registro, os PMs relataram que, chegando ao local, foram recebidos a tiros por um grupo e, por isso, tiveram que revidar com quase 60 tiros.

Ainda de acordo com o depoimento dos, além dos quatro que foram baleados e morreram, havia outras três pessoas, que conseguiram fugir.

Dias após as mortes, o delegado Alex Rodrigues, que investigava o caso inicialmente, contou que os PMs disseram que constataram que havia cerca de 500 pés de maconha no local, além de porções prensadas e outras prontas para consumo. No entanto, parte da droga foi incinerada no local antes da chegada da equipe da Polícia Civil. Essa ação não é a de praxe, segundo o delegado.

O inquérito foi concluído pela Polícia Civil, que indiciou os policiais militares pelos crimes de homicídio qualificado e fraude processual, no dia 4 de março de 2022.

Ainda em março, os militares foram denunciados pelo Ministério Público. Conforme a denúncia, um laudo apontou que uma das vítimas foi atingida quando já estava caída ao chão. O órgão apurou que os PMs ainda queimaram a vegetação do local para destruir a prova de que lá não havia uma plantação de maconha do tamanho que eles tinham informado.

Pés de maconha apresentados pela polícia após ação com quatro mortos em Cavalcante

Divulgação/Polícia Civil

Pedido de justiça

Mortos em ação da PM, que teve quase 60 disparos por parte dos policiais, em Cavalcante, Goiás

Reprodução/TV Anhanguera

Após o crime, mais de 100 entidades da sociedade civil organizada e de movimentos sociais assinaram uma nota de repúdio contra a ação da Polícia Militar. Na nota, eles pediram por justiça e divulgaram ainda a identidade dos mortos durante a ação policial.

“Salviano, Chico Kalunga, Jacaré e Alan eram conhecidos por todos da comunidade e muitos possuem estórias pra contar dos momentos vividos juntos.Não eram pessoas violentas,não andavam armados. Eram pacíficos”, relatou o documento.

Wilma Batista da Silva, irmã de Ozanir, está acompanhando o julgamento e disse que acredita que a justiça será feita. “Eu tô aqui com o coração apertado. Tem horas que é difícil você ouvir coisas que sabe que não é verdade, mas estou com muita fé e muita esperança na justiça”, desabafou em entrevista à TV Anhanguera.

Confira abaixo quem era cada uma das vítimas:

Salviano Souza da Conceição: tinha de 63 anos, morava na chácara invadida pela polícia, era trabalhador rural e guia turístico;

Ozanir Batista da Silva: tinha 47 anos, conhecido como jacaré, era trabalhador rural, mas estava desempregado. Ele estava no local para ajudar na colheita de uma lavoura de milho, segundo a família;

Antônio da Cunha Fernandes: tinha 35 anos, conhecido como Chico Kalunga e era quilombola Kalunga, natural da Comunidade da Barra de Monte Alegre. Era trabalhador rural e também estava desempregado.

Alan Pereira Soares: tinha 27 anos, já trabalhou formalmente como entregador e auxiliar de máquina industrial, mas estava desempregado e passou a sobreviver de trabalhos informais como capina de terrenos. Ele deixou uma filha de seis meses e uma companheira grávida de três meses.

Leia na íntegra a nota da Polícia Militar de Goiás

A Polícia Militar de Goiás (PMGO) informa que, à época dos fatos, adotou prontamente todos os procedimentos administrativos cabíveis, em conformidade com a legislação vigente.

O caso encontra-se em tramitação na esfera judicial, instância responsável pela condução das demais fases e pelas deliberações processuais. A Corporação reitera que segue colaborando com o Poder Judiciário e cumprindo integralmente suas decisões.

Assessoria de Comunicação Social 5ª Seção do Estado-Maior Estratégico da PMGO

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