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De olho no retrovisor, Gusttavo Lima recicla modas, sofrências e clichês no clima intimista do álbum 'Feito à mão'


Gusttavo Lima alinha nove músicas inéditas no repertório do primeiro volume do álbum ‘Feito à mão’

Reprodução / Vídeo da gravação do álbum ‘Feito à mão’

♫ OPINIÃO SOBRE DISCO

Título: Feito à mão vol. 1

Artista: Gusttavo Lima

Cotação: ★ ★ ★

♬ Enquanto se prepara para encarnar o latin lover no mercado musical de língua hispânica, Gusttavo Lima lança no Brasil álbum gravado em bom português, em junho, na casa em que o artista mineiro reside em Bela Vista de Goiás (GO), município da região metropolitana de Goiânia (GO), uma das capitais da indústria sertaneja.

Com nove músicas inéditas, sendo que a última faixa (Onde estão meus amigos) está bloqueada, o primeiro volume do álbum Feito à mão (Sony Music / Balada Music) caiu no mundo na noite de quarta-feira, 13 de agosto, com discurso pronto que enfatizava o fato de o cantor estar “sempre criando tendências no mercado da música”.

Tudo o que Gusttavo Lima não faz no disco Feito à mão é inovar ou criar tendências. De olho no retrovisor, o artista recorre ao já batido formato intimista de gravação audiovisual – no caso dele, uma intimidade obtida mais pela ausência de plateia no registro das músicas do que pelo tom do repertório – e recicla modas, costumes e clichês do universo sertanejo.

Está tudo lá – a sofrência, o apego à cerveja e o uso do sexo para anestesiar dores de amores – na safra de oito canções disponíveis que, justiça seja feita, se revela coesa dentro do atual padrão pop sertanejo, ainda que previsível e sem um toque de inovação.

Capa do álbum ‘Feito à mão vol. 1’, de Gusttavo Lima

Divulgação

Com produção musical orquestrada pelo próprio Gusttavo Lima, em parceria com Matheus Soares, o álbum Feito à mão tem músicas que se distanciam do universo sertanejo, casos da canção Ainda tem amor (Gusttavo Lima, Vinni Miranda, Denner Ferrari, Thales Lessa e Marco Esteves) – cuja batida se afina com o pop urbano de molde universal – e de Retrovisor (Gusttavo Lima, Marco Esteves, Vinni Miranda, Thales Lessa e Gui Prado), power balada em que o cantor propaga revisionismo positivista.

Escrita em tom de autoajuda, a letra de Retrovisor tem versos como “Só tem louça pra lavar / Quem tem comida no prato / Só paga IPVA / Quem já conquistou um carro”.

Culpa (Cristian Luz) é canção de romantismo ressentido – “Namorar você foi culpa do desejo” – com certa aura sertaneja que fica mais evidenciada nas modas Próximo tchau (Philipe Pancadinha, Renato Sousa, Vinni Miranda, Gui Prado e Matheus Costa) e Pelo bem da minha saudade (Lucas Papada, Renato Souza, Mateus Candotti e Vitor Ferrari), esta com refrão eficiente.

Já Sofro e não nego (Vinni Miranda, Gui Prado, Macenna e Matheus Costa) elenca clichês recorrentes no repertório de Gusttavo Lima, remoendo a sofrência do amante latino que afoga as mágoas no bar entre goles de cachaça (“Ninguém esquece tomando café”).

A combinação de sofrência com álcool e sexo anestésico reaparece em Cama e coração (Marco Esteves, Denner Ferrari, Victor Reis e Vinni Miranda), faixa que cai em certo suingue quando o arranjo evidencia o toque dos teclados.

Em que pesem as batidas e os temas rotineiros, o primeiro volume do álbum Feito à mão se situa em um nível acima da discografia rala de Gusttavo Lima. O clima íntimo da gravação audiovisual expõe os padrões do cantor e os sentimentos das canções sem o confeito hi-tech dos registros de shows pirotécnicos tão em voga no universo sertanejo. E, de todo modo, modas como Saudade e cabelos brancos (Vinni Miranda, Gui Prado, Junior Pepato, Diego Silveira e Cristian Luz) reanimam a alma sertaneja do latin lover brasileiro.

Gusttavo Lima na gravação do álbum ‘Feito à mão’ na casa em que reside no município de Bela Vista de Goiás (GO)

Divulgação

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