Monetização, exploração de menores e pedofilia: entenda denúncias feitas por Felca
Em meio a repercussão das denúncias do youtuber Felca sobre casos de "adultização" de crianças e adolescentes, a delegada da Polícia Federal (PF) Estela Beraquet Costa, responsável pelas ações de combate a crimes de abuso infantil na região de Campinas (SP), fez alertas e recomendações sobre os riscos de exposição nas redes sociais.
Estela defende que cabe aos pais e responsáveis pensar e analisar "qual a finalidade de publicar imagens dos filhos nas redes sociais?".
"Você tirou uma foto de seu filho ou filha na praia, correndo. Pode ter um significado inocente. Mas para um grupo de abusadores, tem outro sentido. Um abusador tem várias dessas imagens, criou desejo sexual em relação aquilo que, em um primeiro momento, para você, não tem significado nenhum", pontua.
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Pela experiência em operações contra pessoas que compartilham ou têm posse de material de abuso infantil, a delegada aponta que varia muito o tipo de conteúdo que atrai esses "predadores", o que inclui fotos aparentemente inocentes para quem posta.
"Tem abusador que vai fazer coleção de imagens de crianças em posições sexuais, por exemplo, mas não necessariamente sem roupa, nuas ou fazendo algum ato", explica.
Como se proteger?
A delegada da PF ressalta que mesmo em perfis fechados, ainda há riscos de acesso indevido às imagens de menores. No caso de famílias que desejam compartilhar momentos de lazer, o uso de aplicativos privados pode ser uma alternativa mais segura.
Além disso, ela orienta sobre "metadados" que estão à disposição de pessoas mau intencionadas. A imagem pode ter, por exemplo, o nome da escola que a criança frequenta borrado, mas apresenta a localidade, o horário e outras informações que levem o predador à vítima.
Estela ressalta o problema da manipulação de imagens e áudios, em que o rosto ou voz da criança podem ser modificado para um conteúdo de abuso infantil.
O alerta ocorre pela dificuldade que existe na remoção de imagens da internet. Uma vez na rede, é "praticamente impossível", mesmo com ações judiciais, suprimir um conteúdo indevido, pela velocidade de compartilhamento, fóruns clandestinos.
Por isso, reforla Estela, pais e responsáveis devem ter em mente todo esse contexto quando optam por divulgar imagens de seus filhos, ou mesmo permitir o uso das redes sociais por menores.
"O que a gente vê é muito abandono digital. A gente vê muito criança o dia inteiro com o celular sem nenhum monitoramento. São pessoas que realmente estão sujeitas a serem aliciadas", destaca.
Recomendações aos pais e responsáveis
Evite perfis abertos e pense antes de publicar imagens dos filhos
Use apps privados para compartilhar momentos com familiares
Remova metadados das fotos antes de postar
Não exponha rotinas ou locais frequentes
Supervisione o uso das redes sociais pelas crianças
Denuncie qualquer suspeita à Polícia Federal ou ao Disque 100
PF faz operação contra crimes de abuso sexual infantil na região de Campinas (SP).
Polícia Federal
O juiz Fernando Oliveira Camargo, titular da 2ª Vara de Crimes Praticados Contra Crianças e Adolescentes, defende a importância da orientação para jovens, uma educação digital que não deve ficar só a cargo das escolas.
"A gente tem que observar o que a criança está consumindo, mas, acima de tudo, orientá-los. A escola, quando ela vai orientar um conteúdo sexual, algo parecido, ela vai nos seus 14, 15, 16 anos. Só que ali muita coisa já aconteceu, né? Então eu acho que os pais devem começar a conversar, trazer esse tipo de pauta aos filhos, conversar devagarzinho, para que as crianças saibam se defender também", diz.
Segundo o magistrado, isso não impede o acompanhamento constante e próximo do que os filhos fazem e consomem na internet.
"Controlar, dar uma olhadinha no que está acontecendo, perceber o que a criança está consumindo. Porque muitas vezes ela está sendo abusada e o pai não percebeu ainda. Evidentemente, a informação é a maior arma que a gente tem hoje", pontua.
Dificuldade de combate
Estela Beraquet crê que o número de denúncias recebidas pela Polícia Federal tenha ampliado após a repercussão do caso, mas destaca que o volume médio recebido pelo "Comunica PF", canal oficial para denúncias em todo o Brasil, já era expressivo, em torno de duas mil comunicações por dia.
Por conta da enorme demanda e da dificuldade de fiscalização, o foco da PF, explica a delegada, envolve casos considerados mais graves, como estupro de vulnerável ou cibernético (que envolve posse de imagens, como nudes, chantagens e ameaças a menores), além da venda, compartilhamento e posse de conteúdo de abuso infantil.
"A Polícia Federal trabalha proativamente, monitora algumas redes, mas não dá para monitorar tudo, porque é impossível. São milhares de redes, perfis. Do meu ponto de vista, posso dizer que seria preciso responsabilizar mais gente para estar de olho nisso, especialmente as empresas, as redes sociais, para que impeçam que esse conteúdo seja disponibilizado", defende.
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Arte/g1
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