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Misteriosos e discretos: conheça as 12 espécies de porcos-espinhos que existem no Brasil


Desse grupo, sete são endêmicas. Pequenos mamíferos vivem sobre as árvores, razão pela qual o desmatamento tanto os ameaça. Coandu-alaranjado (Coendou spinosus) registrado no Parque Estadual da Pedra Branca, no RJ

Aisse Gaertner / iNaturalist

Você já ouviu falar nos cuandus? Também conhecidos como porcos-espinhos, esses roedores espinhentos vivem nas árvores e possuem uma diversidade surpreendente no Brasil. A aparência defensiva contrasta com a vulnerabilidade de muitas de suas espécies, que correm risco de extinção devido ao desmatamento.

Os porcos-espinhos encontrados no Brasil pertencem à família Erethizontidae e, mais especificamente, ao gênero Coendou e Chaetomys. Das 12 espécies reconhecidas no país, sete são endêmicas, ou seja, só existem aqui.

Os porcos-espinhos encontrados no Brasil pertencem à família Erethizontidae e, mais especificamente, ao gênero Coendou e Chaetomys

Carlos Alberto Coutinho/ TG

Isso faz do Brasil um verdadeiro refúgio para a diversidade desse grupo de roedores, como explica o pesquisador Fernando Heberson Menezes, professor da Universidade Regional do Cariri (URCA).

Porco-espinho ou ouriço-cacheiro?

Apesar de serem chamados popularmente de porcos-espinhos, esses animais também são conhecidos como ouriços-cacheiros em algumas regiões.

A confusão com os ouriços europeus ocorre devido à semelhança na aparência, mas cientificamente eles pertencem a grupos completamente distintos. Enquanto os animais daqui pertencem à família Erethizontidae, os ouriços europeus estão inclusos na família Erinaceidae.

Porco-espinho também é conhecido como ouriço.

Reprodução/PMA

Povos originários brasileiros têm um nome próprio para esses animais: cuandus ou guandus, termo que inspirou o nome científico do gênero Coendou. “Esse nome é muito utilizado pelas comunidades tradicionais nas regiões Norte, Nordeste e em parte da Centro-Oeste. O nome ‘ouriço’ acaba sendo utilizado nas regiões ao sul do Rio São Francisco (partes da Bahia, Sudeste e Sul)”, explica o biólogo, que trabalha com esses animais há mais de uma década.

Uma característica exclusiva do coandu-mirim são os espinhos-avermelhados

José Antônio Vicente Filho/ Arquivo Pessoal

Os espinhos variam entre as espécies em tamanho, coloração e rigidez, sendo um dos fatores que ajudam pesquisadores a identificar as diferenças entre eles, funcionando também como mecanismo de defesa contra predadores como harpias e gatos-maracajás.

Três espécies já estão classificadas como ameaçadas de extinção: Chaetomys subspinosus, Coendou prehensilis e Coendou speratus, todas nativos da Mata Atlântica. No entanto, a falta de estudos sobre outras espécies pode indicar que o cenário real seja ainda mais preocupante.

Coendou speratus é conhecido popularmente como coandu-mirim

José Antônio Vicente Filho/ Arquivo Pessoal

“A maior ameaça é a perda e fragmentação de habitat. São animais que dependem de ambientes com muitas árvores para viverem e se locomoverem. Daí, com o desmatamento, eles acabam ficando sem ter onde viver e morrem. As três espécies ameaçadas vivem na Mata Atlântica que é o bioma mais devastado pelas atividades humanas”, explica Fernando.

Hábitos, reprodução e ameaças

Os cuandus são animais solitários, passando a maior parte da vida em busca de alimento nas árvores. Durante o período reprodutivo, os machos disputam fêmeas, mas ainda há poucos registros sobre esse comportamento. Após a fecundação, a fêmea cuida sozinha do filhote até que ele possa explorar a floresta por conta própria.

Ouriço-cacheiro da espécie 'Coendou prehensilis' fotografado a Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo, na Paraíba

Nely Ficher

Os porcos-espinhos brasileiros são herbívoros e se alimentam de folhas, frutos e flores. Às vezes, são vistos roendo cascas de árvores, comportamento que pode estar associado ao desgaste de seus dentes incisivos, que crescem continuamente.

Mitos e mistérios dos cuandus

Muitas pessoas acreditam que os porcos-espinhos podem lançar seus espinhos, mas isso é apenas um mito. O que eles fazem, na verdade, é chacoalhar o corpo, soltando naturalmente alguns espinhos já frouxos. Além disso, por serem animais discretos e noturnos, muitas de suas interações com o meio ambiente ainda permanecem um mistério para a ciência.

ouriço-cacheiro possui hábitos solitários

Carlos Alberto Coutinho/ TG

A conservação dessas espécies depende da proteção de seu habitat natural. A cada árvore derrubada, a sobrevivência dos cuandus fica mais difícil. Por isso, conhecer e valorizar esses pequenos guardiões das florestas é um passo essencial para garantir que continuem a fazer parte da biodiversidade brasileira.

Conheça todas as espécies abaixo:

Coendou prehensilis

Ocorre na Mata Atlântica dos estados de Alagoas, Paraíba e Pernambuco. Possui uma faixa de espinhos no dorso que mistura três cores, enquanto na parte traseira predominam espinhos com apenas duas cores. A pelagem marrom é rala e pode ter variações de cor.

Coendou prehensilis registrado no estado do Alagoas

Daniel Branch / iNaturalist

Coendou baturitensis

Habita os biomas Amazônia e Caatinga, nos estados do Pará, Maranhão e Ceará. Corpo densamente coberto de espinhos tricolores, que não estão recobertos por pelos.

Porco-espinho-de-baturité (Coendou baturitensis) registrado em Bragança (PA)

Cley Lemos / iNaturalist

Coendou longicaudatus

Ocorre na Guiana Francesa, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e, no Brasil, em todos os estados das regiões Norte (exceto Tocantins) e Centro-Oeste, além de Piauí, Bahia e Minas Gerais. É a maior espécie do gênero Coendou, com peso variando entre 2,3 a 5,5 kg.

Coandu-açu (Coendou longicaudatus)

karanambulodge / iNaturalist

Coendou spinosus

Vive no Paraguai, nordeste da Argentina, Uruguai e no Brasil, do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul. Sua pelagem é constituída por pelos finos de coloração amarelo-acinzentada a castanho-acinzentada-clara.

Coandu-alaranjado (Coendou spinosus) registrado em Angra dos Reis (RJ)

Aisse Gaertner / iNaturalist

Coendou insidiosus

Endêmica do Brasil, ocorre na região costeira da Mata Atlântica de Sergipe ao Espírito Santo, incluindo algumas localidades em Minas Gerais. Tem pelagem constituída por pelos espinhosos e finos, os últimos mais longos. Coloração geral amarelo-acinzentada.

Coandu-amarelo (Coendou insidiosus) registrado em Guarapari (ES)

Victória Campos / iNaturalist

Coendou nycthemera

Presente no Cerrado e Amazônia, a espécie é endêmica e vive nos estados do Amazonas, Pará, Maranhão e Mato Grosso. Possui espinhos em todo o corpo, além de pelos finos, compridos e espinhosos de cores que variam do prato ao castanho-amarelado.

Coandu-de-koopman (Coendou nycthemera) fotografado em Paranaíta (MT)

Christopher Borges / iNaturalist

Coendou speratus

Conhecido localmente como coandu-mirim, foi descoberto na Mata Atlântica do nordeste do Brasil, mais especificamente no estado de Pernambuco. Possui cauda longa e corpo coberto por espinhos, sem pelos dorsais longos. Sua coloração dorsal é predominantemente escura, com as pontas dos espinhos apresentando tonalidade marrom-avermelhada.

Coandu-mirim (Coendou speratus) visto no estado de Pernambuco

José Antonio Vicente Filho / iNaturalist

Coendou bicolor

Ocorre na Colômbia, Bolívia, Peru e Argentina e no Brasil, com registros no Acre. Completamente espinhoso, possui espinhos bi-coloreados, longos nos ombros e costas e mais curtas na região lombar e na parte traseira.

Coandu-de-duas-cores (Coendou bicolor) encontrado no Peru

Oscar Wainwright / iNaturalist

Coendou melanurus

Pouco conhecido, esse animal habita a Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa e o Brasil, com ampla distribuição nos estados do Amazonas, Amapá, Pará e Roraima. Caracteriza-se por possuir espinhos dorsais tricolores e uma cauda preênsil, adaptada para a vida arbórea.

Coandu-de-rabo-preto (Coendou melanurus) registrado na Guiana Francesa

Sébastien SANT / iNaturalist

Coendou ichillus

Este cuandu ocorre no Equador, Peru, Colômbia e Brasil, sendo conhecido apenas um registro no país, feito no Rio Japurá, no estado do Amazonas. Quase totalmente coberto de espinhos, a maioria deles têm duas cores, exceto na cabeça, onde alguns têm três cores.

Coandu-pigmeu (Coendou ichillus) registrado no Equador

Nelson Apolo / iNaturalist

Coendou roosmalenorum

Endêmica do Brasil, a espécie foi registrada nos estados do Amazonas e Rondônia, na região dos rios Japurá e Madeira. Caracteriza-se por possuir espinhos dorsais tricolores e uma pelagem que pode variar entre tons de amarelo-acinzentado.

Coendou roosmalenorum

M.G.M. van Roosmalen

Chaetomys subspinosus

Chamado também de ouriço-preto, apresenta uma pelagem mais densa e espinhos menos proeminentes. É um porco-espinho endêmico da Mata Atlântica do Brasil.

Ouriço-preto (Chaetomys subspinosus) registrado no Espírito Santo

Instituto Últimos Refúgios / iNaturalist

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