PF diz que "Colômbia" é o mandante dos assassinatos de Bruno e Dom
O Fantástico obteve os áudios que levaram a Polícia Federal ao mandante dos assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, mortos em uma emboscada no Vale do Javari. Veja no vídeo acima.
Em julho de 2022, a PF prendeu Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia, em Tabatinga, no interior do Amazonas. Desde o início, a investigação apontava indícios de que ele era o chefe de uma quadrilha de pesca ilegal em terras indígenas — atividade que Bruno combatia como agente da Funai.
Em agosto daquele ano, Colômbia dividiu cela com os assassinos confessos de Bruno e Dom: Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, e Jefferson da Silva Lima. A Polícia Federal aproveitou a oportunidade e, com autorização judicial, instalou escutas ambientais na cela.
Mesmo desconfiado de estar sendo gravado, Colômbia deixou escapar frases que reforçaram sua ligação com os crimes.
“Eu tenho medo de falar aqui”, disse.
Segundo o delegado Sávio Pinzon, Colômbia desejava a morte de Bruno para evitar prejuízos à sua atividade criminosa.
"Ele queria se vingar e ele desejava a morte, desejava que o Bruno fosse eliminado para que não causasse prejuízo à sua atividade ilícita de pesca".
PF usou escutas na cela para desvendar assassinatos de Bruno e Dom
Reprodução/TV Globo
Financiamento da execução
Para a polícia, as gravações mostraram que Colômbia teria financiado a execução, entregando munição aos assassinos. Em um dos diálogos, ele menciona a venda de cartuchos para Amarildo.
Colômbia: Que tu comprou cartucho de mim.
Amarildo: Ah, não, não.
Peritos da PF concluíram que Jefferson atirou primeiro, pelas costas, atingindo Bruno, que perdeu o controle da embarcação. Amarildo atirou em Dom, que morreu na hora. Bruno ainda estava vivo quando recebeu o último disparo, feito por Jefferson.
Tentativas de mudar a versão dos fatos
Em outra conversa, Amarildo e Jefferson discutem como alterar a versão sobre o tiro que matou Bruno.
Jefferson: Eu falei que foi pelas costas. Ficou ruim.
Amarildo: Pois é, aí tu fala que foi pelo lado.
Eles também combinam o que dizer à Justiça para evitar a acusação de formação de quadrilha, já que parentes de Amarildo ajudaram a esconder os corpos.
"É por isso que tu tem que dizer que só estávamos nós dois, porque, se colocar os meninos no meio, vai dar formação de quadrilha, tu está entendendo?", disse Amarildo.
Ocultação dos corpos e destruição de provas
Os áudios revelam detalhes da ocultação dos corpos e do descarte das armas usadas nos assassinatos. Uma espingarda foi jogada no rio por um menor de idade a mando de Amarildo.
"Eu mandei ele jogar", diz Amarildo.
Além disso, Colômbia teria financiado os advogados de Amarildo logo após o crime.
Colômbia: Eles estão pressionando sobre o advogado que paguei.
Amarildo: É, eu disse que tu não pagou, não. Foi minha família.
Réus confessos e julgamento do mandante
Amarildo e Jefferson são réus no processo e participaram das reconstituições dos crimes, confessando a execução e a ocultação dos corpos. Já Colômbia será julgado separadamente como mandante das mortes.
Em nota, a defesa de Colômbia afirma que as provas não são suficientes para se concluir que Colômbia é culpado e afirma também que ele não teve qualquer participação nos crimes apurados.
Legado e luta por justiça
O jornalista Dom Phillips estava escrevendo um livro sobre a Amazônia. O projeto foi concluído por colegas e especialistas e recebeu o título “Como salvar a Amazônia”.
“O livro tem uma visão otimista de que ainda é possível salvar a Amazônia", diz Rafael Fagundes Pinto, advogado da família de Dom.
“É importante que não só os executores e o mandante direto, mas toda a rede criminosa envolvida nesse crime seja desmantelada", ressalta Beatriz de Almeida Matos, viúva de Bruno.
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